quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Ao entregar Caixa Econômica ao centrão, Lula roda filme repetido



No Brasil, costuma-se dizer que o futuro a Deus pertence. Num instante em que Lula entrega ao centrão o controle da Caixa Econômica Federal, alguém poderia perguntar: E quanto ao passado? Quem se responsabilizará por ele? O toma-lá-dá-cá praticado no terceiro reinado de Lula ficou muito parecido com o balcão que funcionou em mandatos anteriores do PT. Lula roda um filme repetido. Nele, não há final feliz. De repente, o passado tornou-se o melhor profeta do futuro.

Lula enviou ao olho da rua Rita Serrano, a sindicalista que havia assumido a presidência da Caixa em janeiro. No lugar dela, será acomodado Carlos Antonio Vieira, um servidor aposentado do banco. Foi indicado por Arthur Lira. O compromisso assumido por Lula prevê a entrega da Caixa ao imperador da Câmara "de porteira fechada". Estima-se que, além da presidência, que passa às mãos do PP de Lira, as 12 vice-presidências da Caixa serão rateadas entre outros três partidos do centrão: Republicanos, PSD e União Brasil.

O efeito político do início da dança de cadeiras na Caixa foi instantâneo. Lira e o centrão haviam sequestrado o projeto sobre a tributação dos super-ricos que investem em fundos de investimento exclusivos e em contas mantidas nos paraísos fiscais. Uma proposta que deve render arrecadação extra de R$ 20 bilhoes em 2024. A entrega da caixa funcionou como um pagamento de resgate. Após sucessivos adiamentos, Lira acertou os ponteiros com Fernando Haddad, reuniu os líderes partidários e marcou a votação, com a velocidade de um raio, para a noite desta quarta-feira.

Os parafusos da poltrona de Rita Serrano estavam frouxos desde julho, quando a substituição começou a ser negociada. No mês passado, Lira declarou em entrevista que as indicações políticas para a Caixa "não devem ser criminalizadas". Atrasando-se o relógio, verifica-se que esse tipo de nomeação costuma ser criminalizada por políticos que cometem crimes. A Polícia Federal já investigou uma quadrilha de políticos e agentes públicos acusados de arrecadar propinas na Caixa.

Descobriu-se na época, por exemplo, que Geddel Vieira Lima guardava num apartamento em Salvador R$ 51 milhões em dinheiro vivo. Numa antiga gestão petista, a então presidente Dilma Rousseff havia loteado politicamente a Caixa. Indicado pelo MDB, Geddel foi guindado ao posto de vice-presidente de Pessoa Jurídica da instituição. Ali permaneceu de 2011 até 2013. Saiu quando quis.

Houve um tempo em que, quando se falava sobre bancos e assaltos, dava-se de barato que a coisa acontecia de fora pra dentro. A entrega da Caixa ao centrão submete o banco estatal ao risco de uma modalidade distinta da mesma perversão. A diferença é que o assalto costuma acontecer de dentro para fora.

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