sexta-feira, 18 de agosto de 2023

PF vê embate de Bolsonaro com Delgatti como briga de gambás


Walter Delgatti afirmou que aceita participar de uma acareação com BolsonaroImagem: Geraldo Magela/Agência Senado

Os aliados de Bolsonaro na CPI do Golpe, entre eles os filhos Flávio e Eduardo, se esmeraram em desqualificar Walter Delgatti. Sergio Moro, cuja reputação como juiz foi moída pelo conteúdo da Vaza Jato— chamou o depoente de "estelionatário". E foi chamado por ele de "criminoso contumaz". Os bolsonaristas não notaram. Mas, ao realçar o prontuário malcheiroso de Delgatti, potencializaram a fedentina que exala dos diálogos que Bolsonaro travou com ele.

A Polícia Federal, que interrogara Delgatti na véspera, intimou-o para novo depoimento nesta sexta-feira. Ele omitiu da PF muito do que contou à CPI. Bolsonaro também será intimado oportunamente. Embora acuse Delgatti de calúnia, o capitão admite que dividiu a mesa do Alvorada com ele. Reconhece também que ordenou aos militares da pasta da Defesa que dessem ouvidos à desqualificação. Os investigadores da PF enxergam a guerra de versões como uma briga de gambás. Avaliam que todos sairão do inquérito cheirando mal.

Após contribuir para a ressurreição política de Lula, o estelionatário e hacker da Vaza Jato gravou a marca do golpe nas bochechas de Bolsonaro. No depoimento à CPI, o personagem disse ter tomado café da manhã com Bolsonaro em 10 de agosto do ano passado. Relatou que o capitão lhe encomendou um lote de tarefas criminosas. O principal problema não é a presença de marginais no Alvorada. O maior incômodo é que o enredo de Delgatti sobre a encomenda de delitos soou crível, pois ornou com o comportamento público de Bolsonaro.

De acordo com Delgatti, Bolsonaro lhe pediu para violar urnas eletrônicas, propôs num telefonema que assumisse a autoria de um grampo contra Alexandre de Moraes em troca de indulto e o encaminhou ao Ministério da Defesa. Enxergou nele criminalidade suficiente para que instruísse os militares escalados pelas Forças Armadas para contestar a segurança do sistema eleitoral. Delgatti esteve na Defesa cinco vezes. Reuniu-se até com o general Paulo Sérgio Nogueira, que comandava o ministério.

Na versão de Delgatti, Bolsonaro também avalizou pedido feito a ele na véspera —9 de agosto— pelo marqueteiro da campanha à reeleição, Duda Lima. Consistia em inserir um "código malicioso" numa urna eletrônica que seria exibida no 7 de Setembro de 2022 numa encenação destinada a trombetear a falsa impressão de que seria possível adulterar o voto. O encontro teve testemunhas. Entre elas Valdemar Costa Neto, o dono do PL, e a deputada Carla Zambelli, que intermediou os contatos de Delgatti com Bolsonaro e a cúpula da campanha.

Sob Bolsonaro, as coisas não são certas ou erradas. São absorvidas ou pegam mal. As conversas com Delgatti pegaram mal. Muito mal. Bolsonaro e seus asseclas qualificaram a desqualificação porque tramavam usar a mão de obra do interlocutor para cometer crimes. Tudo o que conseguiram foi invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça para inserir nele um pedido jocoso de prisão contra Alexandre de Moraes.

Construiu-se um enredo amalucado. Nele, aliados lunáticos achavam que seria possível erguer um castelo no ar. O mito psicótico imaginou que permaneceria eternamente nele. A Polícia Federal exerce agora o papel de psiquiatra, cobrando o aluguel.

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