sábado, 26 de agosto de 2023

As digitais de um criminoso mascarado em documento de militares



Está muito difícil blindar os militares contra a acusação de golpismo. É uma tarefa à qual se propõem o ministro José Múcio Monteiro Filho, da Defesa, e o general Tomás Paiva, comandante do Exército. Tarefa ingrata, que a cada dia se torna mais ingrata.

O ministro bateu em muitas portas na última quarta-feira à caça dos nomes dos militares que se reuniram no ano passado com o hacker Walter Delgatti a mando de Jair Bolsonaro. Esteve na Polícia Federal, Ministério da Justiça e CPMI do Golpe.

Não conseguiu o que queria. Na semana anterior, e pela mesma razão, Monteiro Filho procurou o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Está nas mãos fechadas de Moraes o inquérito que apura as agressões à democracia.

Moraes é amigo de Monteiro Filho, e mais ainda amigo do general Tomás Paiva. Em São Paulo, por motivos de segurança, Moraes faz ginástica numa academia militar. Ontem, Moraes participou em Brasília da cerimônia que marcou o Dia do Soldado.

Monteiro Filho e Tomás Paiva saíram dos encontros com Moraes de mãos vazias. De Moraes, do ministro Flávio Dino, da Justiça, e do delegado Andrei Passos Rodrigues, Diretor-Geral da Polícia Federal, ouviram que o processo corre em segredo de Justiça.

Daí porque os nomes dos militares suspeitos de ações golpistas não podem ser fornecidos a ninguém. Por ora, estão sendo apenas investigados. Alguns, mais tarde, poderão passar à condição de denunciados. E os inocentes, por óbvio, não serão mencionados.

Compreensível. Mas isso não deveria impedir que militares que se julgam inocentes, mas que foram citados publicamente em alguma ocasião, sintam-se impelidos a proclamar sua inocência. Por que ouvirem calados falsas acusações que mancham suas carreiras?

O general Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa no governo Bolsonaro, poderia responder a uma das perguntas que não quer calar: é verdade que o hacker reuniu-se no ministério com técnicos militares para discutir a vulnerabilidade das urnas eletrônicas?

Não foi uma nem duas vezes que Delgatti disse ter ido ao ministério – foram cinco vezes. E que todas as vezes entrou no ministério pela porta dos fundos, e de máscara. A novidade, agora, é que entrou mascarado a pedido de militares. Será possível?

Bolsonaro já reconheceu que se reuniu com Delgatti no Palácio da Alvorada, e que a seu pedido, o hacker reuniu-se com militares no Ministério da Defesa. Delgatti era processado por vários crimes, e na semana passada foi condenado a 20 anos de prisão.

O que o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, tem a dizer a respeito? Delgatti diz que se encontrou com ele e com servidores da área de tecnologia do ministério:

“Eles [os servidores] iam ao Tribunal Superior Eleitoral e me repassavam o que viam, porque não tinham acesso à internet, não podiam levar uma parte do código. Eles acabavam decorando um pedaço do código e me repassando.”

O hacker orientava os servidores com acesso ao tribunal, e suas orientações foram incluídas no relatório do Ministério da Defesa que questionou a confiabilidade das urnas. As digitais de um criminoso em documento oficial do Ministério da Defesa!

Quem cala diante de uma coisa dessas, consente. Com a palavra, portanto, o general Paulo Sérgio Nogueira. Não ocorre ao ministro da Defesa e ao Comandante do Exército procurarem Nogueira para saber se Delgatti diz a verdade ou mente?

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