sábado, 12 de agosto de 2023

Celular vira versão digital do tradicional "batom na cueca"


General Mauro Lorena Cid

A menos que surja um inesperado desejo de colaboração, os depoimentos de bolsonaristas como Mauro Cid, Anderson Torres e Silvinei servem apenas para colecionar as contradições que potencializam evidências de culpa. Daí a relevância da pescaria eletrônica que a Polícia Federal realiza nos inquéritos que se aproximam de Bolsonaro.

O peixe, como se sabe, morre pela boca. Mas a PF descobriu que o bolsonarismo morre pelo celular. Numa tradução livre, smartphone significa telefone inteligente. Nas mãos de certos bolsonaristas, o aparelho é um cavalo de troia tecnológico a serviço da estupidez.

Alguns dos bagrinhos encrencados no 8 de janeiro forneceram ao Judiciário as selfies que recheiam os processos. O coronel Mauro Cid e seus auxiliares guardaram na lixeira dos celulares as mensagens que expõem o golpismo do capitão e as entranhas apodrecidas de sua Presidência. Coisas como a venda de bens públicos como se fosse muamba.

No dialeto do bolsonarismo celular virou um outro nome para aquilo que os investigadores chamavam antigamente de "batom na cueca". A PF pescou no celular de Cid até a minuta de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) tramada para dar suporte a um golpe. Puxando um fio de meada esquecido na lixeira do celular de integrante da equipe do ex-ajudante de ordens, os investigadores chegaram ao camelódromo fardado das joias.

Foi na memória do celular de Marília Alencar, então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, que a PF recuperou o mapa das cidades onde Lula obteve mais de 75% dos votos no primeiro turno. Do aparelho de Adiel Alcântara, ex-coordenador de análise de inteligência da Polícia Rodoviária Federal, os investigadores extraíram mensagem que anotava que Silvinei Vasques, o chefão da PRF, disse "muita merda" na reunião em que foi planejada a operação "policiamente direcionada" a limitar a circulação de eleitores de Lula no Nordeste.

O ex-ministro da Justiça Anderson Torres, superior hierárquico da PGR, sabia o que fazia quando simulou o extravio do celular antes de retornar do exílio na Terra do Pateta para se entregar à PF no Brasil. A polícia recuperou parte dos dados na nuvem. Mas a suposição é que que uma análise do celular de Torres levaria a investigação a dados mais valiosos. Um personagem que guarda minuta de golpe no armário do quarto decerto manteria um lixo valioso no celular.

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