sábado, 19 de agosto de 2023

Bolsonaro teve sua pior semana desde que deixou a Presidência



A má fama de agosto é universal. No Brasil, agosto é um mês especialmente cruel, permeado pelo azar e pelos eventos de mau agouro. A história demonstra que a má fama é justificada. Foi em agosto que Vargas suicidou-se, que Carmen Miranda morreu, que Jânio renunciou, que Juscelino sofreu o acidente fatal na estrada Rio-São Paulo, que a CPI do Collorgate concluiu o relatório que conduziria ao primeiro impeachment, que o Senado aprovou a deposição de Dilma. Confirmando a tradição diabólica, Bolsonaro teve neste agosto do ano da graça de 2023 a pior semana da excursão que realiza pelos nove círculos do inferno de Dante.

No curto intervalo de sete dias, Bolsonaro colecionou revezes. Armou-se a tempestade na sexta-feira da semana passada. Nesse dia, uma operação da Polícia Federal revelou que joias pertencentes à União foram comercializadas no exterior pelo tenente-coronel Mauro Cid. A operação foi clandestina e arrastou para o epicentro do escândalo o general Lourena Cid.

Velho amigo de Bolsonaro, o pai do ex-ajudante de ordens abrigou em sua conta recursos obtidos com a comercialização de um relógio Rolex presenteado pela ditadura saudita. Advogado de bolso da família Bolsonaro, Frederick Wassef meteu-se num zigue-zague declaratório constrangedor. Primeiro negou que tivesse recomprado o relógio. Confrontado com as provas em contrário, viu-se compelido a reconhecer a recompra por US$ 50 mil à vista.

Súbito, o novo advogado de Mauro Cid, Cezar Bittencourt, pôs-se a dar entrevistas que eletrificaram a conjuntura. Primeiro, informou que seu cliente apenas seguiu ordens superiores. Na sequência, declarou que, em novo depoimento à Polícia Federal, o coronel irá admitir que comercializou o Rolex. Informou, depois de idas e vindas, que Cid entregou o dinheiro a Bolsonaro ou à mulher dele, Michelle.

Como se tudo isso fosse pouco, o hacker e estelionatário Walter Delgatti declarou à CPI dos atos golpistas e à Polícia Federal que tomou café com Bolsonaro no dia 10 de agosto do ano passado para entabular tratativas destinadas a desacreditar as urnas eletrônicas. Foi encaminhado pelo então presidente ao Ministério da Defesa, para municiar, em cinco reuniões, a comissão militar que contestava o sistema eleitoral no TSE.

As trapaças de agosto deixaram Bolsonaro mais próximo de uma sentença criminal condenatória do que do futuro de "cabo eleitoral de luxo" que havia idealizado para si mesmo.

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