quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Novo advogado faz de Mauro Cid um espinho no pé de Bolsonaro


O advogado criminalista Cezar BitencourtImagem: Divulgação/OAB

O tenente-coronel Mauro Cid está encrencado em onze de cada dez rolos criminais de Bolsonaro. Preso desde 3 de maio, trocou de advogado duas vezes. O primeiro, Rodrigo Roca, rodou porque soava mais interessado em salvar o pescoço de Bolsonaro do que em afastar seu cliente da forca. O segundo, Bernardo Fenelon, especialista em delações, abdicou da defesa dias atrás sem converter Cid em colaborador. Cezar Bitencourt, o terceiro defensor, sinaliza que, mesmo sem delatar, o ex-ajudante de ordens pode complicar a situação de Bolsonaro.

O doutor mal assumiu a causa e já rosnou para Bolsonaro. Disse que o então presidente "escolheu o cara certo para lhe assessorar, porque Mauro Cid sempre cumpriu ordens". Cezar Bitencourt tenta vestir farda nos crimes atribuídos ao coronel: "Pela formação dele de militar, sempre prezou pelo respeito a chefia, pela obediência hierárquica. E é exatamente essa obediência a um superior militar que há de afastar a culpabilidade dele."

O novo defensor parece buscar inspiração no lema cunhado pelo general Eduardo Pazuello, um ex-ministro da Saúde que chegou ao mandato de deputado federal cavalgando a cloroquina e o negacionismo sanitário: "Um manda e outro obedece", dizia Pazuello. Há duas pedras nesse caminho. A defesa se arrisca a tropeçar numa obviedade: Mauro Cid não responde a inquéritos militares. É investigado por crimes ordinários em extraordinários processos que correm no Supremo Tribunal Federal.

De resto, o general Santos Cruz, expurgado por Bolsonaro de um ministério palaciano por se recusar a ser um Pazuello, já ensinou que farda não é pano de chão. Segundo ele, "hierarquia e disciplina, na vida militar e civil, são princípios nobres. Não significam subserviência e nem podem ser resumidos a uma coisa 'simples assim, como um manda e o outro obedece'. Como mandar varrer a porta do quartel."

O lixo que vaza pelas bordas do tapete que Mauro Cid hesita em levantar expõe varrições que estão mais próximas do Código Penal do que da porta do quartel. É improvável que a nova pregação da defesa alivie as culpas do ex-ajudante de ordens. Mas a lealdade do preso, já bem extenuada, parece chegar ao limite. O coronel Cid está a um passo de virar um espinho no pé do capitão.

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