sábado, 19 de agosto de 2023

Curto-circuito de Bolsonaro ofusca lambança do apagão



O curto-circuito que eletrocutou a semana de Bolsonaro gerou uma cortina de fumaça providencial para Lula. Hipnotizado pela rotina criminal faiscante do capitão, o país já nem se lembra do apagão de quatro dias atrás, que deixou 29 milhões de brasileiros sem energia elétrica em todos os estados, exceto Roraima.

Venceu na quinta-feira o prazo de 48 horas que o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) se autoconcedera para apresentar as causas da queda do sistema elétrico. Veio à luz um precário relatório preliminar. Nele, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) recorreu à tática da barriga.

O texto anotou que o apagão teve origem numa linha de transmissão da Chesf, subsidiária da Eletrobras, no Ceará. Esclareceu que a interrupção dessa linha não teria potencial para desligar tantos domicílios da tomada em 26 unidades da federação. O documento mostrou a barriga ao informar que serão necessários 45 dias para desfazer o mistério.

O espetáculo da protelação foi precedido de uma coreografia de elefantes. Um dia depois de Alexandre Silveira ter declarado que não descartava nem mesmo a hipótese de sabotagem, o colega Rui Costa (Casa Civil), assegurou que o apagão foi provocado por falhas técnicas. Embora o Planalto menospreze a teoria do dolo, o ministro Flávio Dino (Justiça) acionou a Polícia Federal.

Quando autoridades de peso gastam mais tempo e energia divergindo sobre um problema do que enfrentando o problema, essas autoridades se convertem no próprio problema. No caso presente, é como se os elefantes procurassem culpados pelo apagão como quem busca um gato preto num quarto escuro.

Toda crise tem um custo. Na manhã de terça-feira, ao ser informado no Paraguai de que um apagão de grandes proporções ocorrera no Brasil, Lula sabia que a falta de luz teria um custo. Se os dois mandatos anteriores serviram para alguma coisa foi para ensinar a Lula que o governo paga mais caro pelas crises sempre que tenta pechinchar.

Alheio aos ensinamentos, Lula permitiu que regateassem em vez de fixar o preço que estava disposto a pagar. Do seu lado, a primeira-dama Janja insinuou num tuíte que a culpa é de quem privatizou a Eletrobras. Enviado de volta a Brasília às pressas e sem a orientação devida, o ministro Alexandre Silveira ignorou a primeira regra básica da teoria dos buracos: sempre que cair dentro de um, pare de cavar. O ministro ainda não parou de cavar.

Seria aconselhável para Lula que interrompesse a escavação, pois num regime presidencialista a cara das crises costuma ficar muito parecida com o semblante do presidente.

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