O pastor e ex-ministro da Educação Milton Ribeiro obteve porte de arma cinco meses depois de chegar à Esplanada dos Ministérios. Na versão oficial, ele foi registrado como CAC, a sigla que identifica colecionador, atirador desportivo e caçador. Significa dizer que há escondido atrás do púlpito um cristão apaixonado por armas, frequentador de estandes de tiro ou adepto da caça silvestre. De duas, uma: ou Milton Ribeiro prova que é o que ninguém suspeitava ou o país está diante de uma fraude que fez de um evangélico descuidado um atirador precário, capaz de disparar uma pistola Glock 9 mm no saguão de um aeroporto.
Na gestão Bolsonaro, os CACs foram contemplados com decretos que eliminam barreiras e liberam acesso a armas e munições. Antes, atiradores desportivos eram classificados em três níveis. No patamar mais alto, podiam comprar até 16 armas e 40 mil munições ao ano. Hoje, seja qual for o nível, podem adquirir até 60 armas e 180 mil munições por ano.
Ainda que Milton Ribeiro fosse colecionador, atirador ou caçador, seria difícil explicar a porte da arma num voo de Brasília para São Paulo. Ao manusear sua arma dentro de uma pasta em área pública do aeroporto, o CAC improvisado descumpriu normas da Anac e da Polícia Federal. Deveria ter chegado ao local do embarque com a arma "descarregada". Dispunha da alternativa retirar as balas em local disponível para esse fim. Seu tiro acidental produziu estilhaços que atingiram duas pessoas, felizmente sem gravidade.
Diante da sequência de descalabros, a Polícia Federal devolveu a arma ao atirador precário. A ligeireza na concessão do porte, a má-fé na conversão do pastor num caçador descuidado e a leniência dos investigadores da PF compõem um retrato perfeito do governo de um presidente que defende que todo brasileiro deveria "comprar um fuzil", pois "o povo armado jamais será escravizado."
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