terça-feira, 5 de abril de 2022

Pasta da Educação opera no modo 'liberou geral'



Bolsonaro decidiu levar ao pé da letra a tese do antiprocurador Augusto Aras segundo a qual o presidente da República não é obrigado a tomar providências quando lhe chegam denúncias de corrupção. O Ministério da Educação, por exemplo, opera no modo "liberou geral". Refém de pastores amigos e de prepostos do centrão, a pasta adotou o lobby como programa e o "quanto eu levo nisso" como lema. Até o Tribunal de Contas da União se assustou com a desfaçatez,

Habituado a agir apenas quanto jé é tarde, o TCU levou o pé à porta para impedir um superfaturamento de R$ 732 milhões na aquisição de ônibus escolares. A coisa foi revelada no sábado pelo Estadão. Na segunda, de passagem pelo Rio de Janeiro, Bolsonaro subiu no caixote. "Porra, a licitação nem foi feita ainda." Jactou-se da eficiência do governo: "Quem descobriu fomos nós. Nós temos compliance, temos gente trabalhando em cada ministério com lupa em contratos."

Imaginou-se que o presidente já tivesse ordenado o cancelamento da licitação. Engano. Menos de 24 horas depois do arroubo de Bolsonaro, o MEC informou que o pregão eletrônico suspeito está mantido para esta terça-feira. Nele, o governo se dispôs a pagar até R$ 480 mil por um ônibus escolar que custa no mercado no máximo R$ 270 mil. Assim, a compra de 3.850 veículos saltaria de R$ 1,31 bilhão para R$ 2,08 bilhões.

Ficaram boiando na atmosfera um par de interrogações: Como explicar que o governo despreze alertas feitos pela Controladoria-Geral da União e pela área técnica do próprio Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação? Como justificar a manutenção do pregão eletrônico mesmo depois de o caso ter ganhado as manchetes?

Provocado por três parlamentares -Tabata Amaral, Felipe Rigone e Alessandro Vieira— o ministro do TCU Walton Alencar achou melhor se precaver: autorizou a realização da licitação, mas condicionou a homologação à demonstração prévia de que não houve maracutaia.

Bolsonaro voltou a declarar que o governo está há três anos e três meses sem corrupção. Quem olha ao redor percebe que não faltam malfeitorias. O que falta é vergonha na cara. A propósito, o ex-ministro Milton Ribeiro manteve a cara de Bolsonaro no fogo ao declarar em depoimento à Polícia Federal que abriu as portas do MEC para pastores lobistas a pedido do chefe.

Por Josias de Souza

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