Quando ainda era ministro da Educação, Milton Ribeiro disse que privilegiava requisições de verbas avalizadas por pastor evangélico graças a um "pedido especial" de Bolsonaro. O comentário foi gravado. Pastores que cobravam propinas de prefeitos para azeitar a chegada aos cofres do MEC tinham acesso privilegiado também ao Planalto. Estiveram com Bolsonaro e outras autoridades palacianas. No total, participaram de 35 reuniões na sede do governo. Porém...
Porém, a vice-procuradora-geral da República Lindôra Araújo, braço direito do antiprocurador-geral Augusto Aras e simpática ao bolsonarismo, sustentou em ofício remetido ao Supremo Tribunal Federal que não há elementos para investigar Bolsonaro no escândalo do Ministério da Educação. A manifestação pode resultar na transferência do inquérito da Corte Suprema para a primeira instância do Judiciário, onde são investigados os suspeitos sem prerrogativa de foro. Isso ocorreria porque Milton Ribeiro, aquele por quem Bolsonaro colocaria "a cara no fogo", já não é ministro.
A manifestação de Lindôra foi uma resposta à ministra do Supremo Cármen Lúcia, que havia estranhado a ausência de Bolsonaro no pedido de abertura de inquérito formulado pela Procuradoria-Geral. Para Aras e sua equipe nem mesmo a menção ao nome do presidente em áudio do então ministro da pasta justifica uma apuração para verificar até que ponto a cara de Bolsonaro foi tostada pelas labaredas do MEC.
Sob Bolsonaro, o Brasil vai se tornando um país de pouquíssimos espantos. Mas os brasileiros que ainda não suprimiram dos seus hábitos o ponto de exclamação devem estar atormentados com uma interrogação: O que Bolsonaro terá de fazer para que a Procuradoria do antiprocurador Augusto Aras decida investigá-lo? Hoje, se o presidente da República for filmado num ato de pedofilia explícita, Aras e sua equipe talvez acusem a criança da prática do crime de sedução de maiores.
Por Josias de Souza
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