José Mauro Ferreira Coelho, indicado para a presidência da Petrobras Imagem: Valter Campanato/Agência Brasil |
No seu discurso de posse, o novo presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, classificou como "necessária" a estratégia de vincular o reajuste dos combustíveis no Brasil às oscilações do valor do barril do petróleo no exterior e à cotação do dólar. Soou taxativo: "A prática de preços de mercado é condição necessária para criação de um ambiente de negócios competitivo, para a atração de investimentos, para ampliação da infraestrutura do país e para a garantia do abastecimento." Traduzindo para o português do asfalto: o preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha não vai cair como num passe de mágica.
Nada acontece na Petrobras, exceto o esforço de Bolsonaro para passar a impressão de que muito está acontecendo. A pretexto de conter a alta dos combustíveis, o presidente fritou com espalhafato dois presidentes da estatal. No ano passado, decorou sua sala de troféus com a cabeça do economista Roberto Castello Branco, um apadrinhado de Paulo Guedes. Agora, pendurou na parede o cocuruto do general Joaquim Silva e Luna, um amigo que ele próprio apresentara como solução para a "insensibilidade" da Petrobras.
Castello Branco e Silva e Luna adotaram a mesma política de preços que Mauro Coelho tachou de "necessária". Logo, logo Bolsonaro estará criticando o novo presidente que indicou para a Petrobras. Repetirá que não tem poderes sobre a estatal. Em seguida, com um alívio cenográfico, colocará a culpa em alguém. Bolsonaro é sempre vítima de alguém.
A campanha à reeleição potencializou o apreço de Bolsonaro pelo narcisismo do fracasso. Ele enobrece a própria alma terceirizando culpas. Tudo é uma porcaria, menos o crítico. Ninguém vale nada, exceto ele, o denunciador dos problemas.
Pesquisa divulgada pelo Datafolha em 28 de março revelou que a estratégia do capitão não está funcionando. Para 68% dos eleitores, o governo Bolsonaro tem responsabilidade pela alta dos combustíveis. A plateia não adequadamente ensaiada para o teatro que o presidente inaugurou ao instalar uma porta giratória na presidência da maior estatal do país.
A Petrobras tornou-se uma espécie de conto do vigário que Bolsonaro aplica em si mesmo.
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