A China encontrou na pandemia uma oportunidade para demonstrar aos gênios do governo Bolsonaro que a diferença entre a genialidade e a estupidez é que a genialidade tem limites. Pequim submete o presidente brasileiro e seus luminares à estratégia do jacaré.
Os sábios de Brasília levaram os ataques à China até as margens da imprudência. Mal enxergaram o olho do alvo. Chegaram mais perto. De repente, o bicho abriu a boca. Deu o bote no instante em que ficou escancarada a dependência do programa de vacinação do Brasil em relação aos insumos farmacêuticos chineses.
Ernesto Araújo, suposto ministro das Relações Exteriores do Brasil, está zonzo. O hipotético chanceler declarou a deputados da Comissão de Combate à Covid o seguinte:
"Não identificamos nenhum problema de natureza política em relação ao fornecimento desses insumos provenientes da China. Nossa análise é de que realmente há uma demanda muito grande por esses insumos. Não há nenhum problema político na relação com a China. Queria reiterar: nós temos uma relação madura, construtiva, muito correta, tranquila com a China."
Porta-estandarte do pelotão anti-China do governo, Araújo ainda não notou que está na boca do jacaré. Mastigado, o gênio do Itamaraty tornou-se uma irrelevância diplomática.
No momento, a China coloca na roda o próprio Bolsonaro, que mendiga um contato telefônico com o colega Xi Jinping, e o ministro Fabio Faria (Comunicações), que se equipa para lançar o edital do bilionário negócio da tecnologia 5G.
A China não tem a intenção de romper os contratos que preveem o fornecimento de insumos para as vacinas contra a covid. Mas está entendido que a matéria-prima pode chegar mais rápido ao Butantan e à Fiocruz se os gênios de Brasília fornecerem à Huawei, gigante chinesa do ramo da tecnologia, imunizantes contra o vírus da sinofobia.
O jacaré ensina aos sábios do bolsonarismo que, na pandemia, a ideologia pode ser o caminho mais longo entre o projeto de vacinação e o braço dos brasileiros.
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