Chefe da Secom, Fabio Wajngarten, arruma microfone ao lado do presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada Imagem: Reprodução |
Em dois anos de governo Jair Bolsonaro (sem partido), a Presidência da República gastou 17 vezes mais com propaganda no exterior do que todos os governos que o antecederam na última década.
Visto como "pária" — como o próprio chanceler, Ernesto Araújo, admitiu em outubro —, o governo Bolsonaro pagou R$ 27,7 milhões, em 2020, e R$ 11,7 milhões, em 2019, para "contrapor percepções equivocadas e descontextualizadas que, por vezes, surgem no cenário internacional", segundo a Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) afirmou ao UOL. Os números constam nos dados de pagamentos e execução contratual do Palácio do Planalto.
Os gastos em 2019 e 2020 ficam, respectivamente, 5.331% e 12.812% acima da média anual dos gastos da Presidência de 2009 até 2018. Sob os governos Lula (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), o Planalto gastou, no total, R$ 2,14 milhões com propaganda no exterior.
O aumento vai na contramão da diminuição de toda a verba publicitária da própria Secom. As despesas caíram de R$ 255,6 milhões em 2018 (valores nominais) para R$ R$ 128,15 milhões em 2020.
Até Bolsonaro, os maiores valores, corrigidos pela inflação, tinham sido registrados em 2009, quando o ex-presidente Lula pagou R$ 1 milhão para veicular nos EUA anúncios sobre a Conferência Internacional sobre Biocombustíveis e o Seminário Invest in Brazil - New York.
Em 2017, Temer pagou R$ 882.400 por "estratégia de mídia nas redes sociais", que incluíram ações de mídia no Facebook dentro do país, e por campanhas de divulgação da carne brasileira no mercado externo. Naquele ano, a operação Carne Fraca, da Polícia Federal, minou a confiança nos frigoríficos nacionais.
Procurada pelo UOL, a Secom disse que veiculou a campanha "Brazil by Brasil" (Brasil segundo o Brasil) em "países considerados estratégicos para o Brasil, como EUA, Alemanha, França, Inglaterra, Noruega e Suécia". A ação aconteceu em 2019, mas o processamento dos pagamentos extrapolou para o orçamento de 2020.
"Campanhas como essas tornam-se necessárias para contrapor percepções equivocadas e descontextualizadas que, por vezes, surgem no cenário internacional em temas nos quais o Brasil se destaca, como meio ambiente, recursos naturais e agronegócio", afirmou a pasta.
As propagandas tentam apresentar um "novo Brasil, moderno e produtivo", que "preserva 60% de sua vegetação original". Nas redes sociais, é possível encontrar registros de anúncios em pontos de ônibus e num outdoor eletrônico que cobre metade de um prédio na saída de uma das estações de trem mais movimentadas de Nova York, a um quarteirão do Empire State.
Painel com campanha do governo brasileiro em esquina na região da Penn Station, em Nova YorkImagem: Reprodução/Twitter |
Na Holanda, o brasileiro Lucas Magalhães se surpreendeu ao ouvir, em inglês, a frase "o mundo precisa conhecer o Brasil segundo o Brasil" durante uma viagem de trem. "Curiosíssimo para saber quanto o Governo Federal tá desembolsando em publicidade ao ponto de ouvir de um celular aleatório no trem aqui na Holanda 'the world needs to know Brazil by Brasil'", ele tuitou, em novembro de 2019.
Brian Winter, editor-chefe da revista especializada em América Latina "Americas Quarterly", registrou no Twitter um painel pago pelo governo brasileiro em um ponto de ônibus de Nova York com a "esperança de 'consertar o problema de Relações Públicas' depois da crise na Amazônia".
Por UOL Notícias
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