sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Sova das pesquisas levará Bolsonaro ainda mais para o extremismo religioso



Tudo indica que Jair Bolsonaro (PL) vai continuar a apelar a forças do além para tentar vencer Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No mundo dos homens, a coisa está difícil. Resta apelar ao diabo e a Deus. Vale dizer: mesmo com as ilegalidades mirabolantes das duas PECs eleitorais — a dos combustíveis e a dos benefícios —, não está fácil reverter o destino. Vai acontecer? Não sei. É muito provável que, do fim de julho a esta data, tenha havido um encurtamento da diferença entre os dois líderes da pesquisa — certamente muito abaixo do que esperavam os "homens do presidente". Assim, parece certo que o "capitão" vai dobrar a dose do obscurantismo religioso. A coisa tem lá seu risco porque pode parecer o que é: desespero.

Os números da pesquisa Datafolha oscilaram dentro da margem de erro em relação ao levantamento divulgado em 29 de julho. Lula manteve seus 47%; Bolsonaro variou de 29% para 32%. Na pesquisa passada, tinha entre 27% e 31%; agora, entre 30% e 34%. Ciro Gomes, do PDT, foi de 8% para 7%, e Vera Lúcia, do PSTU, conservou seu 1%. O petista tem, pois, 51% dos votos válidos e ainda poderia vencer no primeiro turno se a eleição fosse hoje, coisa com a qual os estrategistas de Bolsonaro certamente não contavam. Ciro Nogueira cansou de plantar aos ouvidos de quem quisesse ouvi-lo que a virada se daria em julho.

No voto espontâneo, tanto o ex-presidente como o atual oscilaram dois pontos para cima, com 40% e 28%, respectivamente. Notem que o ex-presidente ganha sete pontos na estimulada, e Bolsonaro, apenas quatro. O dado evidencia a dificuldade para que surja um terceira via: 68% já tem o seu candidato antes mesmo que lhes sejam apresentados nomes. No segundo turno, também deu a margem: 54% para Lula contra 37% para Bolsonaro — no mês passado, 55% a 35%. A rejeição ao atual presidente segue nas alturas: 51% (era de 53%). A Lula, ela é de 37% agora, contra 36% em julho.

RITMO
Sim, é verdade: na série histórica, ambos têm sempre variado na margem de erro, mas a linha de Jair Bolsonaro é ascendente. A de Lula segue estável, só que nas alturas. Faltam apenas 44 dias para a eleição. Digamos que se estabeleça uma constante de aproximação de Jair Bolsonaro, não parece haver tempo para uma virada. Havendo segundo turno, o presidente ganha mais 28 dias para a sua guerra do bem contra o mal.

O resultado é obviamente favorável a Lula porque a PEC dos combustíveis já produz efeitos plenos — houve redução do preço na bomba —, e parte dos R$ 200 suplementares do Auxílio Brasil já foi paga. Não obstante, entre os que ganham até dois salários mínimos, o atual mandatário manteve seus 23%; o ex-presidente até oscilou um para cima e tem agora 55%. Por enquanto, o povão não caiu na conversa.

O presidente avançou sete pontos entre os que recebem de dois a cinco mínimos. Pode-se especular que a redução do desemprego — ainda que os postos de trabalho gerados sejam de baixa remuneração — e a redução dos combustíveis possam ter atuado: nessa faixa, há empate técnico: 41% a 38% para Lula.

O ex-presidente vence o atual por vantagem considerável no Sudeste, que tem 42,64% do eleitorado: 44% a 32%. Em São Paulo, a vantagem é de 13 pontos; em Minas, de 20. No Nordeste, a liderança do petista segue esmagadora: 57% a 24%. Trata-se do segundo maior contingente do país: 27,11% dos aptos a votar. No Sul, com 14,42% dos votantes, há empate técnico: 43% a 39% para Lula. Bolsonaro aparece numericamente à frente no Norte (43% a 41%) e no Centro Oeste (43% a 39%), que abrigam, respectivamente, 8,05% e 7,38% dos votantes.

DE VOLTA AO PONTO
Se apenas os evangélicos -- em torno de 25% do eleitorado -- votassem para presidente, Bolsonaro seria reeleito contra Lula por 49% a 32%. Em maio, estavam em empate técnico. Assim, os bolsonaristas têm razões para a acreditar que o extremismo religioso nos palanques e a campanha de demonização daquele que lidera as pesquisas esteja surtindo efeito nesse público. O risco é a radicalização religiosa chegar a um ponto que afasta eleitores ao invés de atraí-los.

De certo modo, Bolsonaro está de volta a 2018: ele seguirá com sua pauta de costumes, atrelada as igrejas evangélicas, e continuará a conjurar os reacionários de todo tipo a enfrentar o meio ambiente, os índios, os gays, os quilombolas, os comunistas... Enquanto isso, Paulo Guedes faz promessas em eventos com agentes "duzmercáduz". Também o ministro requer dos ouvintes uma boa dose de crença. Poderia fundar uma igreja.

"Então a eleição de Lula já está no papo?" Claro que não! Mas é ele o franco favorito. Bolsonaristas plantam por aí que a campanha mal começou. É verdade. Ocorre que o presidente não falará sozinho. Hoje, o monstro que apavora o governismo é a chance de uma vitória do petista na primeira etapa. É preciso tentar evitá-lo a qualquer custo. E aí vale apelar a Deus e, sobretudo, ao demônio.

Por Reinaldo Azevedo

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