quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Bolsonaro virou defensor involuntário do voto útil



O principal problema político do comitê da reeleição é que as pesquisas feitas por encomenda da campanha de Bolsonaro revelam que a maioria do eleitorado tem dificuldades para reconhecer os avanços recentes obtidos pelo governo. E Bolsonaro se revela incapaz de demonstrá-los. Embora disponha de boas novidades para expor na vitrine, o presidente passa a impressão de estar sem assunto ao manter sua opção preferencial pela agenda do Apocalipse eleitoral.

A informalidade alta macula o mercado de trabalho. O nível de renda é baixíssimo. Mas a taxa de desemprego caiu quase dois pontos percentuais desde janeiro: de 11,2% para 9,3%. Ainda há 10 milhões de trabalhadores à procura de emprego. Mas a legião de desempregados já somou quase 15 milhões de desafortunados.

No acumulado de 12 meses, a inflação continua rodando acima de dois dígitos. Porém, a redução no preço da gasolina leva os economistas a projetarem uma deflação para este mês de agosto. A inflação negativa não chegou à feira. Mas o governo começa a pagar em 9 de agosto o Auxílio Brasil vitaminado de R$ 600.

Com tantos assuntos à disposição, Bolsonaro se mantém acorrentado à retórica do caos. Prepara nova confusão para 7 de Setembro, Nesta terça, numa entrevista à Rádio Guaíba, voltou a questionar o sistema eleitoral. Atacou ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral.

O capitão disse que Luiz Fux, presidente da Suprema Corte, deveria ser investigado no inquérito sobre fake news por defender as urnas eletrônicas. Tachou Luís Roberto Barroso de "criminoso" por ter participado, a convite do Congresso, dos debates que resultaram na rejeição do projeto que instituía o voto impresso. Acusou Alexandre de Moraes de persegui-lo com investigações "imorais" e "ilegais".

A pregação de Bolsonaro leva água para o moinho do movimento que prepara o lançamento, em 11 de agosto, de um par de manifestos em defesa da democracia —um organizado por docentes da USP, a caminho das 700 mil assinaturas; outro encabeçado pela Fiesp, em parceria com a Febraban. Na mesma entrevista, o presidente chamou os signatários dos manifestos de "pessoal cara de pau e sem caráter."

Os próprios aliados avaliam que a obsessão de Bolsonaro por uma agenda enferrujada faz dele um defensor involuntário do voto útil, aquele que vai para qualquer lugar, inclusive para a candidatura de Lula, desde que o projeto da reeleição seja sepultado. O presidente demora a perceber que conspira contra si mesmo.

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