terça-feira, 30 de agosto de 2022

Lula e Bolsonaro na mesma no IPEC; ainda a vitória no 1º turno e voto útil



Se a pesquisa Ipec de há 15 dias foi considerada uma decepção para Jair Bolsonaro e sua turma, tanto pior a que foi divulgada ontem. Nada mudou no primeiro turno para Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL); no segundo, houve uma pequena alteração dos índices, dentro da margem de erro. O petista ainda poderia vencer a eleição no primeiro, embora essa possibilidade seja menor agora do que há 15 dias. Será que o aumento do Auxílio Brasil, entrevistas ao Jornal Nacional e início do horário eleitoral são irrelevantes? Vamos ver.

Se a eleição fosse hoje, o ex-presidente teria 44% das intenções de voto, contra 32% do atual, os mesmos números do levantamento anterior. Ciro Gomes (PDT) oscilou de 6% para 7%; Simone Tebet (MDB), de 2% para 3%, e Luiz Felipe D'Ávila (Novo), de 0% para 1%. Os demais postulantes não pontuaram. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. Assim, Lula tem 44% contra 43% de seus adversários, mantendo a possibilidade de liquidar a fatura no primeiro turno. Havendo um segundo, o ex-presidente oscilou de 51% para 50%, e o atual, de 35% para 37%. A diferença era de 16 pontos; agora, é de 13. A oscilação está na margem de erro, mas é muito provável que tenha havido um encurtamento da distância.

Se é correto afirmar que os eventos recentes não resultaram numa alteração nos dados gerais, é impossível sustentar que os R$ 200 a mais, as entrevistas e o início da campanha são irrelevantes. A razão é simples: não se sabe se os números seriam os que estão aí não houvesse essas realidades. Não lhes parece razoável supor, por exemplo, que, sem o benefício suplementar, Bolsonaro poderia estar ainda pior? Vamos ver.

A RENDA E O VOTO
Se Bolsonaro obteve algum ganho entre os que recebem benefícios sociais do governo federal (incluindo o Bolsa Família, que o bolsonarismo chama de "Auxílio Brasil"), foi, até agora, residual. Nesse público, Lula manteve os mesmos 52% das intenções de voto do levantamento anterior, e o presidente oscilou de 25% para 29%. Quase nada.

Entre os que recebem até um mínimo, o petista caiu de 60% para 54%, e Bolsonaro subiu de 19% para 22%, mas a diferença ainda é brutal: 32 pontos. Na faixa dos que ganham mais de um até dois, Lula avançou de 44% para 47%, e Bolsonaro oscilou de 29% para 31%. O petista avançou também na faixa de mais de dois a cinco salários: de 32% para 39%; Bolsonaro caiu de 41% para 37%.

Na minoria que ganha acima de cinco mínimos, o presidente oscilou de 46% para 47%, e Lula caiu de 36% para 28%. Nesse grupo, Ciro cresceu de 7% para 10%, e Simone, de 1% para 4%. De todo modo, a vantagem de Bolsonaro é folgada, e se pode especular que a queda no preço dos combustíveis consolida a sua liderança.

MULHERES
As mulheres seguem como um bastião hostil a Bolsonaro. Dada a pantomima que provocou no debate, não parece que ele ajude muito. A folgada liderança de Lula oscilou de 46% para 45%, e o atual mandatário variou de 25% para 27%. Estamos falando de 53% do eleitorado. Entre os homens, a vantagem do petista é menor: 41% a 36%. Há 15 dias, era de 42% a 37%.

REGIÕES
O presidente avançou um pouco no Nordeste, que representa 27,11% do eleitorado: foi de 22% para 25%, mas ainda a uma distância brutal de Lula, que manteve seus 57%. Ciro, um candidato da região (Ceará), marca apenas 7%. No Sudeste (42,64% do total), Lula manteve a vantagem de seis pontos: 39% a 33%. No Norte/Centro-Oeste (15,41%), os dois estão empatados em 40%. No Sul (14,42%), Bolsonaro estava numericamente à frente há 15 dias: 39% a 36%; agora, 36% a 34% para Lula.

COR DA PELE E RELIGIÃO
As obsessões de Bolsonaro lhe garantem um eleitorado fiel, fanático mesmo, mas também tem seu custo, não é? Entre os eleitores brancos -- que são 44,2% da população, segundo o IBGE --, Lula fica numericamente à frente de Bolsonaro, empatando no limite da margem de erro: 39% a 35%. Entre os pretos (8,2%) e pardos (46,7%) -- que representam, pois, 54,9% dos brasileiros --, a vantagem de Lula é de 17 pontos: 47% a 30% -- 48% a 29% há 15 dias. A hostilidade do bolsonarismo a políticas raciais inclusivas é conhecida. E o eleitorado parece reagir.

Bolsonaro se dedica a uma espécie de guerra santa, mobilizando os evangélicos. Nesse grupo, a estratégia parece bem-sucedida: o presidente oscilou de 47% para 48%, e Lula caiu de 29% para 26%. Há 22 pontos de diferença. Ocorre que, na maioria católica, a vantagem do petista é de 24 pontos: 51% a 27%. Essa parcela e a dos que têm outra religião ou religião nenhuma não se deixam mobilizar pela conversa mole da "luta do bem contra o mal".

ENCERRO
Faltam 33 dias para a eleição. Os efeitos dos golpes legislativos -- PECs do combustível e dos benefícios sociais -- já estão na praça. Nos próximos dias, vem nova redução do preço da gasolina e do diesel, mas a inflação de alimentos segue brutal. A campanha eleitoral no rádio e na televisão ainda não engrenou, é verdade, mas as onipresentes redes sociais já foram inundadas pela campanha há muito tempo.

Numa pesquisa em que pouca coisa mudou, pode-se apontar com segurança que ela aponta para uma diminuição da chance de Lula vencer a disputa no primeiro turno. A rejeição a Bolsonaro oscilou de 46% para 47%; a Lula, de 33% para 36%. A diferença é grande.

Se o petista chegar ao dia da eleição com chance de vencer a disputa na primeira rodada, crescerá o movimento em favor do voto útil. Numa disputa em que, em larga medida, simula-se um segundo turno já no primeiro, ainda não se pode descartar a possibilidade.

Para pensar: se Bolsonaro faz o que faz numa disputa de primeiro turno, imaginem a insanidade no caso de haver um segundo.

Por Reinaldo Azevedo

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