quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Jair Bolsonaro lança Pacheco no rol dos 'traidores'



Rodrigo Pacheco beliscou os nervos mais sensíveis de Bolsonaro. Discursando na condição de chefe do Poder Legislativo, o senador enalteceu a democracia, referiu-se às urnas eletrônicas como um "orgulho nacional", elogiou o trabalho da Justiça Eleitoral, pediu a "pacificação de ânimos" e sustentou que o debate político precisa ser escorado em "verdades" e "ideias". Não citou o nome do presidente da República uma mísera vez. Mas Bolsonaro vestiu todas as carapuças.

Em privado, Bolsonaro dedicou a Pacheco expressões de calão rasteiro. Nos trechos publicáveis, chamou o senador de "ingrato" e "traidor". Bolsonaro atribui a eleição de Pacheco à presidência do Senado e do Congresso ao apoio do Planalto. Daí a menção à ingratidão. Avalia que o senador, em campanha para ser reconduzido ao cargo, aliou-se a Lula. Por isso se queixa de traição.

Bolsonaro considerou "imprestável" todo o discurso de Pacheco. Mas dois trechos deixaram o presidente especialmente transtornado. Num, o senador enalteceu o trabalho de Edson Fachin, atual presidente do TSE, e de Alexandre de Moraes, que assumirá o comando da Corte eleitoral em 16 de agosto. Noutro, Pacheco disse que a disputa eleitoral deve se basear em "verdades e boas propostas".

Fachin não perde oportunidade para realçar que as críticas de Bolsonaro ao sistema eleitoral são mentirosas. Moraes é relator de um inquérito em que o presidente é associado à difusão de fake news. Bolsonaro interpretou as palavras de Pacheco como um endosso do senador aos ataques de Fachin e às investigações conduzidas por Moraes.

No fundo, Bolsonaro é ingrato com Pacheco, não o contrário. Antes do recesso parlamentar, o presidente do Senado articulou o sepultamento da CPI do MEC. E apressou a aprovação da PEC da reeleição. Teve um comportamento de aliado. Mas o capitão não se satisfaz com aliados. Ele quer do seu lado apenas os vassalos.

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