sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Se país passar pela porta estreita, vem reconstrução. Pra cima com a viga!



A PEC dos combustíveis e a dos benefícios sociais foram a facada dessa eleição, escrevi no dia 4 de julho, no UOL. E lembrei que a disputa se daria, mais uma vez, num ambiente de excepcionalidade. Em 2014, a morte de Eduardo Campos; em 2018, o ato tresloucado de Adélio Bispo e as ilegalidades da Lava Jato, que tiraram Lula da disputa. (...) Não sei o que o futuro nos reserva. O certo é que o atual presidente, e deixei isso claro aqui mais de uma vez, sempre me pareceu um candidato perigoso. E não porque faça um governo competente. "Perigoso" não quer dizer "competitivo", o que suporia conhecimento e habilidade para ganhar dentro das regras do jogo. Não. O "risco Bolsonaro" sempre foi alto porque ele é o ás da trapaça.
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O que vamos saber ao fim do dia 30 de outubro é se haverá alguma possibilidade de nos levantarmos do desastre ou se a desinstitucionalização do país e a barbárie terão continuidade, ameaçando ser um ciclo longo. Inexiste, aponto todos os dias no UOL e no rádio, paridade de armas entre Bolsonaro e seus adversários, agora representados (quase todos eles) por Luiz Inácio Lula da Silva.
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As coisas foram acontecendo ao ritmo da imaginação a mais pessimista. Como um criador às avessas, Bolsonaro disse: "Façam-se as trevas". E elas se fizeram. E ele viu que aquilo era bom para os seus propósitos. E então deu início à destruição do ordenamento legal. E também à de gente, bicho e planta. E, como ensinam as Escrituras dos que examinam as entranhas da história, as instituições foram cedendo à fúria liberticida. Depois de tudo, resta a "porta estreita", para lembrar São Lucas, no dia 30.
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Tomei para mim, em texto escrito na segunda, a divisa de Romain Rolland, atribuída por aí a Gramsci: "O pessimismo da inteligência não deve abalar o otimismo da vontade". No país em escombros, a prefeita de Uberaba comemorou o Dia das Crianças oferecendo-lhes uma exposição em que podem manipular armas pesadas. No Rio, o governador veste infantes com fantasia de guerreiros. Nos dois casos, a celebração da morte. Em Aparecida, santuário que glorifica a Padroeira do Brasil --por alcunha, "A Compadecida"--, romeiros de Bolsonaro cercaram uma pessoa que vestia uma camisa vermelha e tentaram agredi-la. Jornalistas foram hostilizados e ameaçados por arruaceiros e bêbados de verde e amarelo.
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Por Reinaldo Azevedo na Folha Íntegra aqui

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