quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Operação em Alagoas fede; trogloditas querem mais e se fala em novas ações



Qualquer que tenha sido o escândalo protagonizado por Paulo Dantas (MDB), governador de Alagoas que concorre à reeleição — E ISSO NA HIPÓTESE DE HAVER UM —, não será certamente tão escandaloso como uma operação policial deflagrada na boca da urna, a 19 dias do segundo turno, sendo o Estado palco não só do embate nacional — e Jair Bolsonaro tomou uma surra ali —, mas também território de uma disputa local: entre o senador Renan Calheiros (MDB), aliado de Dantas, e Arthur Lira (PP), presidente da Câmara.

É evidente que uma ação deflagrada nessas condições, a pedido da Polícia Federal e com a anuência da Procuradoria Geral da República, não ignora o óbvio e consequente impacto político-eleitoral. "Ah, mas então se deve deixar prosperar o malfeito em razão da eleição?" Ainda que ele tenha existido, a pergunta está errada. Consta que eventuais irregularidades apresentadas datam de 2019. E se decide por esse espalhafato a três semanas do pleito? Inaceitável!

Não só se autorizam os mandados de busca e apreensão como se afasta o governador por 180 dias como consequência de uma operação que acaba de ser deflagrada? Convenham: não é um procedimento de investigação, mas de condenação antecipada. E, como de hábito, vem a público a imagem de dinheiro vivo encontrado em algum lugar — antes de ser convertido em imóveis, não é mesmo, Bolsonaros? —, sem que se saiba exatamente de quem ou qual a sua ligação com o governador afastado.

Há coisas do arco da velha. Lula estará em Maceió nesta quinta. O petista venceu Bolsonaro em 94 dos 102 municípios do Estado. Em votos válidos, 56,5% a 36,5% dos votos. Dantas, agora afastado, apoiado por Renan Calheiros e por Lula, venceu Rodrigo Cunha (UB), o candidato de Lira, em 83 cidades, por 46,64% a 26,79%. Pesquisa Real Time Big Data, publicada nesta terça, aponta que o governador que sofreu a ação venceria a disputa por 59% a 41%.

O fedor da manipulação política sai por todos os poros. Ontem, a, digamos, periferia dos apoiadores de Cunha, o homem de Lira, anunciava nos meios políticos de Alagoas "uma bomba" para hoje. A bomba está aí.

O curioso é que a acusação original contra Dantas estaria ligada a um esquema de rachadinha ao tempo em que era deputado estadual. Curioso por quê? Era a mesma que pendia sobre a cabeça de Arthur Lira. Entre 2001 e 2007, ele teria liderado, segundo acusou o Ministério Público de Alagoas, um esquema que teriam movimentado R$ 254 milhões dos cofres públicos.

Informa o Estadão:
"Dois anos depois, o juiz Carlos Henrique Pita Duarte, da 3ª Vara Criminal de Maceió, invalidou as provas do caso, absolvendo Lira sumariamente -- quando não há análise do mérito da ação -- das acusações de peculato e lavagem de dinheiro. Tal sentença foi dada horas após o Estadão revelar detalhes da denúncia, é época em que Lira ainda era o candidato do Palácio do Planalto para a presidência da Câmara dos Deputados."

Parece que estamos voltando ao tempo em que ser amigo do rei tem como garantia a impunidade. Ser inimigo tem como consequência a masmorra.

TENSÃO NO AR
A PGR aquiesceu com a operação na boca da urna. Mas consta que se foi surpreendida pelo afastamento do govenador. Pois é... Não se condescende com meia arbitrariedade, não é? Um pouco já vale por uma arbitrariedade inteira.

Esta coluna apurou que é grande a pressão para que se decrete a prisão do governador. Os manipuladores do caos entendem que só assim se criaria um fato eleitoral forte o bastante.

Pior: são quentes os boatos de que novas operações do gênero podem ocorrer em outros Estados até o dia da eleição. Nunca se viu nada assim depois da redemocratização. Há a forte suspeita de que entes do Estado estão sendo usados com o intuito de interferir no resultado da eleição. Em Alagoas e no Brasil.

Parece que a regra é a seguinte: se o povo não se mostra disposto a fazer o que eles querem, dê-se um jeito, qualquer um, de mudar a opinião do povo. Só não vale o convencimento legítimo. O resto vale.

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