terça-feira, 18 de outubro de 2022

Mau sinal: Tarcísio e empresário agora negam atentado; versão segue péssima


Tuíte de Tarcísio falando em ataque; a contestação que fiz e depois a coletiva de Tarcísio dizendo que nunca sugeriu um atentado. E daí? Bolsonaro já levou o caso para a sua propaganda eleitoral Imagem: Reprodução

Então vamos botar um pouco de ordem na bagunça.

As autoridades que investigam o que aconteceu em Paraisópolis já têm tudo em mãos.

Dispõem de um vídeo em que o homem que depois foi morto em suposto confronto com forças que faziam a segurança de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ainda está vivo, conduzindo uma moto. Parece fazer um trabalho de vigilância ou segurança. Seria de um ponto venda de drogas.

Depois esse mesmo homem aparece estirado no chão. O sangue que escorre no chão parece vazar das costas. Em entrevista, afirma Tarcísio:
"Foi um ato de intimidação, um recado claro do crime organizado como 'a gente não quer você aqui dentro'. É uma questão territorial e não tem nada a ver com a política".

Pois é... Seu tuíte ambíguo continua no ar, sem correção, com 110 mil curtidas e 22,5 mil retuítes. Lá se lê:
"Em primeiro lugar, estamos todos bem. Durante visita ao 1º Polo Universitário de Paraisópolis, formos atacados por criminosos. Nossa equipe de segurança foi reforçada rapidamente com a atuação brilhante da PMSP. Um bandido foi baleado. Estamos apurando detalhes sobre a situação".

O prédio em que Tarcísio estava não tinha sido atingido, e ele sabia disso. Portanto, não foi atacado coisa nenhuma. Houve, sim, e as imagens de que dispõe a polícia o indicam — inclusive vídeos — um choque entre aqueles que funcionam como vigilantes do crime e os homens que faziam a segurança do candidato.

O candidato deveria, então, voltar ao Twitter e às redes sociais e deixar claro que não se tratou de um atentado. O Ministério Público tem de entrar a fundo nessa história. Chamei a atenção para esses aspectos no Twitter, reproduzindo a mensagem do candidato.

Reitero: a confusão se dá no dia seguinte à afirmação abjeta de Bolsonaro, em debate, segundo quem os criminosos querem a vitória de Lula. E, ora vejam, não deu outra: a campanha do presidente no rádio e na TV já está explorando a coisa. Lembra, em seguida, a facada de 2018 e menciona o caso em que um homem de 22 anos foi preso, na semana passada, suspeito de ter atirado contra uma igreja evangélica em Fortaleza (CE) que aguardava Michelle. A polícia no Estado não encontrou evidência nenhuma de vinculação política.

A Folha publicou a seguinte fala, atribuída a Wallace Rodrigues, sócio da startup Belezinha, ligada à unidade educacional que oferece bolsas de estudo na favela:
"Ouvimos disparos do lado de fora do prédio. Foram disparos para o alto de opositores políticos do Tarcísio".

Quis saber, neste espaço e no programa que comando na rádio, de onde Wallace tirou essa informação. Ademais, tudo resolvido quanto à autoria, certo?
Agora, leio no jornal coisa completamente diferente. O mesmo Rodrigues afirma:
"Em hipótese alguma foi um atentado contra Tarcísio. Tinha mais polícia e um desconforto, uma tensão, foi uma disputa entre poder paralelo e poder público".

Fico cá a me perguntar: será que a reportagem da Folha inventou as primeiras aspas?

Informa ainda jornal:
O empresário toca o negócio com Mônica Jesus, que mora em Paraisópolis há 22 anos. "Existe uma ética na comunidade e não usariam nosso evento para fazer manifestação política. Temos um trabalho social reconhecido aqui." Havia perto de 150 convidados na Casa Belezinha, localizada em uma das ruas paralelas ao Baile da Dz7. Um coquetel era oferecido a portas abertas. "Nossa intenção era a realização de um sonho, que é ter a primeira universidade dentro da comunidade. Colocamos carro de som na rua, amigos chamaram amigos, e nessa apareceu Tarcísio, foi surpresa", diz Rodrigues. Perto do meio-dia, quando todos estavam no terceiro andar do prédio, que tem janelas largas, foram ouvidos os disparos na rua. Nenhum atingiu o prédio da universidade. "Ouvimos barulhos, mas não somos experts em tiros. Tentamos nos acolher, alguns abaixaram."

Como se vê, conta ainda que Tarcísio não era esperado e apareceu de repente.

Não se tratou de um atentando contra o candidato, está mais do que claro. Até porque, já destaquei, fosse coisa dos "adversários de Tarcísio", como teria apontado o primeiro Rodrigues, depois desmentido pelo segundo — e ambos são um só —, seria um ato profundamente burro, não? Afinal, não se pode dizer que isso o prejudique, certo?

Bolsonaro, como se nota, não perdeu tempo e já politizou a questão. Para a turma das redes sociais e do Zap, trata-se de tentar provar as acusações insanas que Bolsonaro fez na noite anterior.

NÃO FOI ATENTADO. MAS FOI POLÍTICO?
Não, não foi um atentado, mas, ainda assim, é preciso verificar se realmente não há política na história. Se uma comunidade tem a presença de um dos partidos do crime -- e o PCC está presente em Paraisópolis, como sabe toda gente --, a chegada súbita de um esquadrão armado, ainda que para fazer a segurança de um candidato, é operação, já por si, arriscada.

Aí é preciso saber quem decidiu disparar o primeiro tiro e por que razão.

Leio ainda na Folha:
"O empresário também não confirma que os disparos seriam de opositores políticos de Tarcísio, conforme fala atribuída anteriormente a ele. "Não posso correr esse risco, todos vão embora e eu fico aqui, posso morrer por essa afirmação." Wallace Rodrigues também nega que o candidato do PL teria ido inaugurar a universidade na favela. "Tarcísio não veio lançar o Belezinha, nosso trabalho não é inaugurado por político nenhum, estamos nessa desde 2016."

Não sei o que quer dizer "fala atribuída". Atribuída por quem? Pelo jornal? Ele, afinal, falou ou não falou?

De resto, a Polícia já tem vídeos e fotos evidenciando o que, de fato, aconteceu. Resta saber quem deu o primeiro tiro naquela circunstância. E se ele foi realmente necessário à segurança — ou se, na prática, produziam-se imagens e um cadáver para o horário eleitoral de Bolsonaro.

Tarcísio tem chances reais de se eleger governador. Se os eleitores confirmarem o que apontam as pesquisas, é o que vai acontecer. Nem assumiu, e já está no meio de uma cena muito perigosa para a segurança pública. E tudo pode piorar muito sem câmeras nos uniformes dos policiais.

Mau sinal: Tarcísio e empresário agora negam atentado; versão segue péssima.

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