terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Mocorongos e a Pátria Amada



Continuo curiosa para saber o que afinal o presidente assinou no segundo dia de governo, achando que era uma coisa… e era outra. Desmentiram o presidente, mais de uma vez. Ninguém desvendou seu “equivoco”.

Pelo jeito que começou, vai levar mais tempo para Jair Bolsonaro acabar com o “socialismo” que só ele viveu no Brasil, do que entender o peso da sua caneta Compactor. Ou a força de suas declarações.

Os primeiros dias de governo causaram espanto. Discursos inflamados, messiânicos. Extremismos, preconceitos, desencontros, desmentidos. Muita confusão para pouco tempo.

Nessa segunda, um movimento ensaiado no Palácio do Planalto tentou passar pano na poeira que impregnou Brasilia. Ônix Lorenzoni fez carinho em Paulo Guedes para acalmar o mercado. Mas as rusgas permanecem. Incontestáveis entre os principais servidores do governo.

O mal estar também. Impossível deslembrar o discurso “quixotesco” de Ernesto Araújo – o próprio chanceler diz que é chamado assim. Araújo misturou Raul Seixas com Renato Russo e Padre José de Anchieta, anunciou que vai “libertar” o Itamaraty, e rezou a “Ave-Maria” em tupi. Não deu uma informação concreta sobre seus planos para a política externa.

Num governo que tem Damares Alves, pastora “terrivelmente religiosa” como ministra dos Direitos Humanos e da Mulher, Araujo conseguiu a proeza de chamar a atenção.

E vem mais. Num fim de semana pródigo em redes sociais, a família Bolsonaro dá conselhos aos professores de ensino médio: ‘seu aluno que inicia agora o 1º ano não precisa saber sobre feminismo, linguagens outras que não a língua portuguesa ou história conforme a esquerda’, escreveu Eduardo.

O deputado replica o pai e cita Murilo Resende, aluno de Olavo de Carvalho, e novo diretor de Avaliação da Educação Básica, órgão responsável pelo Enem. “Resende terá como foco a medição da formação acadêmica e não somente o quanto ele foi doutrinado em salas de aula”.

O tom conciliador dessa segunda entre os ministros não se ajusta ao tom bélico de Bolsonaro. Em seu primeiro fim de semana como presidente, usou o Twitter para atacar o PT e a imprensa. Uma dúzia de mensagens.

Numa delas, avisou que estava bloqueando Fernando Haddad. “Eu bloqueei por orientação médica. Estou impedido de exercer qualquer tipo de atividade intelectual com ou sem viés ideológico. A Facada do Mito não me permitiu debater. Agora estou afastado de debates por tempo indeterminado. Lamentável”.

Preocupado em detonar os “opositores”, o presidente não ouve o que dizem os brasileiros. Nenhuma palavra sobre pesquisa da Datafolha em que a maioria dos brasileiros discorda da privatização de estatais (60%) e da redução de leis trabalhistas (57%) e é contra a liberação da posse de armas de fogo (61%),

Sentido contrário ao que defende.Impedido de exercer atividade intelectual, como ele próprio afirma, Bolsonaro vai em frente. Leva junto o Brasil. E estamos apenas no primeiro round.

Mirian Guaraciaba é jornalista, paulista, brasiliense de coração, apaixonada pelo Rio de Janeiro

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