terça-feira, 17 de setembro de 2013

Gilberto Carvalho fez lobby por ONG suspeita


Josias de Souza


Investigação da Polícia Federal revela que uma ONG que desviou R$ 18 milhões das arcas do Ministério do Trabalho contou com o lobby de um personagem bem posto na engrenagem do poder: o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência). Chama-se Ceat, sigla de Centro de Atendimento ao Trabalhador.

Em diálogos telefônicos captados pela PF, membros da ONG de fancaria se referem ao ministro como “interlocutor”. Num dos grampos, ouve-se uma conversa sobre a perda de espaço da entidade na pasta do Trabalho. A presidente da ONG, Jorgette Maria Oliveira, soa assim: “Gilberto Carvalho irá resolver isso.”

Segundo a PF, Gilbertinho, como o ministro é conhecido, recebeu os membros da “quadrilha” no Planalto. Seu interlocutor mais frequente era o padre Lício de Araújo Vale, identificado no inquérito como “articulador dos constantes aditamentos irregulares junto ao Ministério do Trabalho”.

Ouvido, Gilbertinho reconheceu que “recomendou” a ONG a dois ex-ministros do Trabalho, Carlos Lupi e Brizola Neto. Fez isso, segundo disse, a pedido das arquidioceses de São Paulo e do Rio. Arquie cardeais da Igreja Católica de São Paulo e do Rio. “Mas eu nunca pedi que forçassem uma barra para o Ceat”, afirmou.

“Quando houve as prisões eu pensei que devia ser engano muito grave, alguma pirotecnia”, contou Gilbertinho. “Liguei para o Zé Eduardo [Cardozo, ministro da Justiça], ele disse que era coisa séria. Tentei falar com d. Cláudio Hummes, estava em retiro. Dom Odilo Scherer já sabia das prisões, muito surpreso.”

O ministro demonstra inconformismo. “Esse é o típico caso em que a gente deu apoio confiando muito na posição da Igreja. O Ceat sempre foi o orgulho da Igreja. Não estou dizendo que há algum culpado, mas agimos baseados nas recomendações de dom Cláudio Hummes e dom Odilo Scherer e de dom Orani (cardeal do Rio). Quem sempre reforçou a referência sobre padre Lício foram eles. Padre Lício sempre teve comportamento irrepreensível.”

O ministro escorou-se na Santa Madre Igreja: “Esse é o típico caso em que a gente deu apoio confiando muito na posição da Igreja. O Ceat sempre foi o orgulho da Igreja.” Se acompanhasse mais de perto o notíciario sobre o Banco do Vaticano, Gilbertinho teria se dado conta de que mesmo na Igreja já não há pecado original.

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