O general Braga Netto e os comandantes militares andam com os dedos nervosos para escrever como quem recorre ao coldre? Pois, então, que procurem no lugar certo os que ameaçam a democracia e os Poderes, de cuja independência são garantidores.
Ninguém ameaça dar golpe na CPI.
Ninguém ameaça a institucionalidade na CPI.
Ninguém promete violar a Constituição na CPI.
Mas é precisamente o que faz aquele que a Constituição define como comandante supremo das Forças Armadas — desde, é claro, que se comporte dentro do que prevê a própria Carta.
Nesta quarta, o presidente Jair Bolsonaro concedeu uma entrevista à rádio Guaíba, de Porto Alegre. Voltou a dizer que as eleições de 2014 e de 2018 foram fraudadas. E, por óbvio, está contando uma mentira porque ele não dispõe de provas nem de uma coisa nem de outra.
Acusou um ministro do Supremo de ter interesse pessoal em que não se aprove o voto impresso. E deixou claro o que ele quer: contagem realmente manual, voto a voto — o que abriria, aí sim, o caminho da fraude e do cabresto.
Não ficou por aí. Anunciou a desordem caso aconteça o que hoje está escrito nas estrelas: a sua derrota. Pode reverter o quadro? Até pode. Mas, pelo visto, nem ele acredita nisso. E aí afirmou:
"Se este método continuar aí, sem, inclusive, a contagem pública, eles vão ter problemas. Porque algum lado pode não aceitar o resultado. Este algum lado, obviamente, é o nosso lado, pode não aceitar o resultado".
O general Braga Netto e os três comandantes militares não viram nisso uma agressão à Constituição. Nessa hora, não lhes ocorreu o que diz o Artigo 142 da Constituição, na leitura não golpista:
"As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem."
Como resta evidente, o presidente está a ameaçar os "poderes constitucionais". E, em sua defesa, qualquer um deles poderá evocá-las na garantia da lei e da ordem. Não do golpe.
A nota de Braga Netto, com o endosso dos três comandantes militares, é um dos capítulos mais vergonhosos das Forças Armadas em tempos de paz.
No dia 3 de abril de 2018, o então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, houve por bem ameaçar o Supremo caso o tribunal concedesse o que a Constituição devia a Lula e a qualquer brasileiro na sua situação: a liberdade. O general se comportava como chefe do Poder Judiciário. O Petista foi mantido na cadeia por seis votos a cinco. Se algum ministro se deixou intimidar, não se sabe.
A nota de agora, convenham, não vem à luz em defesa das Forças Armadas. Afinal, elas não foram ameaçadas ou vilipendiadas. É uma tentativa de intimidar a CPI. Caso não consiga, vai ser o quê?
Repito: é fácil falar em golpe e até mesmo desfechar um. Difícil é mantê-lo.
E não! As Forças Armadas não vão se livrar de sua própria história.
Por Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário