Sempre haverá um motivo novo para Augusto Aras proteger Bolsonaro. Preterido na corrida pela cadeira no Supremo Tribunal Federal, o doutor mantém a blindagem do capitão no pressuposto de que será reconduzido, em setembro, ao cargo de procurador-geral. Aras terá de lidar com um constrangimento interno.
Cinco dos onze membros do Conselho Superior do Ministério Público Federal decidiram alardear os efeitos da conexão Aras—Planalto. Nem tudo cabe embaixo do tapete. Os ataques de Bolsonaro à democracia e ao sistema eleitoral, por exemplo, escapam pelas bordas.
Como procurador-geral eleitoral, Aras teria de investigar o capitão por abuso de poder, um crime previsto na legislação eleitoral. Em petição encaminhada ao procurador-geral os colegas que participam do levante interno sugerem que, confirmado o delito eleitoral, a Procuradoria requisite a inelegibilidade de Bolsonaro, cassando o eventual registro de sua candidatura à reeleição em 2022.
Entre os signatários do documento encaminhado a Aras estão três subprocuradores-gerais que integram a lista tríplice com os nomes escolhidos pela corporação para o cargo de procurador-geral. Uma lista que Bolsonaro vai ignorar.
Tudo muda ao redor de Bolsonaro —a popularidade cai, a CPI sobe a rampa do Planalto e o centrão reajusta o preço do apoio legislativo. Só não muda a disposição de Aras de virar a cara para tudo o que possa constranger Bolsonaro.
É como se o doutor intuísse que não será procurador-geral em nenhum outro governo. Depende da reeleição de Bolsonaro para voltar a sonhar com uma poltrona no Supremo em 2023.
Paradoxalmente, a perversão que o procurador-geral se recusa a procurar afasta Bolsonaro do trono. Segundo o Datafolha, 70% dos brasileiros acham que há corrupção no governo do capitão, que se elegeu em 2018 enrolado na bandeira da Lava Jato .—uma operação que Aras se empenhou em desmontar.
Por Josias de Souza
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