O general Eduardo Pazuello divulgou uma nota sobre o penúltimo rolo em que se meteu. No texto, o ex-ministro da Saúde pede, por assim dizer, para ser visto não como um gestor inepto ou desonesto, mas como um sujeito meio abobalhado.
Pazuello foi pilhado num vídeo revelado pela Folha. A cena é de 11 de março. Nesse dia, o general se preparava para deixar a pasta da Saúde. Apareceu na fita celebrando a assinatura de "memorando de entendimento" com a World Brands, uma firma de Santa Catarina.
O memorando evoluiria "no mais curto prazo" para a assinatura de um contrato, disse Pazuello no vídeo. Referia-se à compra de 30 milhões de doses da CoronaVac "direto da China", com preço três vezes mais alto do que a cotação do Butantan, parceiro do laboratório chinês Sinovac.
Divulgada na noite de sexta-feira (16/7) pela Secretaria de Comunicação do governo Bolsonaro, a nota de Pazuello informa a certa altura:
"Após a gravação, os empresários se despediram e, ato contínuo, fui informado que a proposta era completamente inidônea e não fidedigna. Imediatamente, determinei que não fosse elaborado o citado memorando de entendimentos, assim como que não fosse divulgado o vídeo realizado."
O que o general escreveu, com outras palavras, foi o seguinte: "Como ministro da Saúde, caí no golpe da vacina. Avisado de que fiz papel de trouxa, dei meia-volta. Lembrei que o Butantan é fornecedor exclusivo da CoronaVac no Brasil. Não me tomem por inepto nem por desonesto. Sou, no máximo, meio bobo."
A gravação que trouxe Pazuello de volta às manchetes foi feita no gabinete do coronel Elcio Franco, então secretário-executivo da Saúde, responsável pela compra de vacinas contra a Covid.
A turma da World Brands pedira para ser recebida no ministério. "Diante da importância da temática", Pazuello mandou seu braço direito conversar com representantes da empresa. Agiu com a rapidez de um raio. Nem parecia aquele ministro que dava canseira no Butantan e ignorava ofertas da Pfizer.
Pazuello esclareceu na nota que não participou da reunião. Foi ao gabinete de Elcio Franco depois que a negociação avançou. O general atribuiu à assessoria de comunicação do ministério a ideia de gravar "um pequeno vídeo de memória para posterior publicização dos atos e fatos da administração pública".
Elcio Franco não foi demitido por Pazuello. Deixou o Ministério da Saúde dias depois da saída do chefe. Portanto, é lícito supor que o general gostaria que também o coronel, egresso das Forças Especiais do Exército, fosse visto como um reles tolo, jamais como um oficial incapaz de todo. Ou capaz de tudo.
Para que os desejos de Pazuello fossem atendidos, o general precisaria esclarecer por que não acionou o Ministério Público ou a Polícia Federal para investigar a World Brands, empresa que ousou levar à pasta da Saúde a proposta "inidônea e não fidedigna."
De resto, Pazuello teria de esclarecer a epidemia de ridículo que se abateu sobre sua gestão, levando o Ministério da Saúde a estender o tapete vermelho para tantos picaretas que vendiam vacina na Lua, depois de tratar na base do ponta-pé a Pfizer e o Butantan. A pasta deu mais cartaz a um cabo da PM e a um reverendo do que à cúpula de logomarcas com comprovação científica.
Nesse ambiente, a CPI da Covid prefere respeitar a inteligência do general Pazuello e do coronel Elcio, investigando-os como suspeitos de corrupção. Para sorte da dupla, Bolsonaro parece enxergá-los como tolos. Por isso abrigou-os na folha salarial do Palácio do Planato.
Por Josias de Souza
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