terça-feira, 13 de julho de 2021

Bolsonaro confirma o "terrivelmente servil" para o STF. Que seja rejeitado!



Na conversa que manteve com os jornalistas depois do encontro com Luiz Fux, o presidente Jair Bolsonaro confirmou a indicação do nome de André Mendonça para a vaga aberta com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio.

O presidente disse que ele próprio está fazendo "um trabalho" junto aos senadores e que também o indicado está em contato com os parlamentares. Segundo Bolsonaro, a cada dia, "ganha mais adeptos". Afirmou sobre Mendonça:
"É um ministro que, em chegando aqui... Ele é, sim, extremamente evangélico, ele é pastor evangélico... Já falei que eu só faço um pedido pra ele... Que ele falou que nem precisava ter feito: que. uma vez por semana, ele comece a sessão com uma oração. Então isso tá fechado. Independente do meu pedido, eu tenho a certeza de que os demais ministros do Supremo, caso ele seja aprovado no Senado, não vão se opor a isso. Muito pelo contrário. Vão se sentir com a alma bem mais leve para fazer o seu julgamento"

Alguém indagou se poderia haver algum problema por ser o Estado laico.

Bolsonaro respondeu:
"O que é Estado laico, meu Deus do céu? Tinha de ser ateu pra ser presidente da República? Eu, por exemplo, sou católico. A minha esposa é evangélica. Acredito em Deus. Como eu sempre digo, né? Temos agora um presidente da República que acredita em Deus, que respeita seus militares, que defende a família e deve lealdade absoluta a seu povo. Qual o problema? O que que é o Estado laico? Nós não impedimos outras religiões em prol de uma só. Ou impedir todas as religiões de maneira geral. O público evangélico, que está na casa de 40% do Brasil, merece uma pessoa aqui dentro. Agora, além de ser evangélico e pastor, ele tem um profundo conhecimento das questões jurídicas (...)"

Definitivamente, ele não tem noção do que é um Estado laico. Os evangélicos estão na casa dos 30%, não dos 40%, mais isso é irrelevante.

O Supremo não é espaço para a expressão da crença de ninguém. Tampouco deve obedecer a cotas religiosas. A laicidade não implica que todos os crentes devem, então, expor a sua fé, como se as sessões do pleno fossem um culto ecumênico. A bíblia que vale ali é a Constituição. E as orações são os códigos infraconstitucionais.

O "cristão" Mendonça é aquele ex-ministro da Justiça que não hesitou em recorrer aos aspectos mais tenebrosos da Lei de Segurança Nacional para constranger jornalistas e críticos do seu então chefe, a quem ele teria prometido iniciar intervenções no Supremo com uma oração.

Eu realmente folgaria muito em ver Mendonça a fazer digressões sobre os decretos armamentistas de Bolsonaro, por exemplo. Ninguém ainda conhece com seria um Cristo de pistola na mão. Ou circulando por aí, em sua mensagem pacificadora, com seis armas escondidas nas dobras da túnica.

Já expressei aqui o que penso a respeito da indicação deste senhor. É aquele que, quando o Supremo foi fisicamente atacado por fascistoides, não só deixou de censurar os truculentos como ainda recomendou aos agredidos que fizessem uma autocrítica.

Um mínimo de decência recomenda que sua indicação seja recusada pelos senadores. Em nome dos valores republicanos. E não porque ele é cristão. Mas porque, à frente do Ministério da Justiça, ignorou uma das principais virtudes do cristianismo: a tolerância.

Esse mesmo Mendonça, "terrivelmente evangélico", opôs-se, numa votação de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, que se estendesse à homofobia os efeitos da lei que pune racismo. O pretexto: legislar é função do Congresso. Sim, claro que é. E quando não legisla, e pessoas são mortas apenas por serem quem são?

Bem, a questão não cabe no cristianismo de Mendonça.

O ponto: o cristianismo, com efeito, não deve ser razão nem para ser nem para não ser ministro do Supremo. O que interessa é o apego às leis.

Mas a hipocrisia é, sim, um excelente motivo para dizer "não" a Mendonça, o terrivelmente servil.

Por Reinaldo Azevedo

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