Na campanha presidencial de 2018, com a Lava Jato a pino, a corrupção estava no topo das preocupações do eleitorado. Na campanha municipal de 2020, o debate sobre ética sumiu. Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL) mal roçam o tema.
Boulos subiu no caixote para ironizar o apoio do bolsonarista Celso Russomanno a Bruno Covas. Tratou o gesto como evidência de que o rival tucano joga no time de Jair Bolsonaro, líder de uma organização familiar cuja imagem está bem rachadinha.
"É o BolsoDoria versão 2020", discursou o postulante do PSOL, do alto de um caminhão de som. "O Bruno Covas é o João Doria, e o Russomanno é o Bolsonaro, deixou isso muito claro no primeiro turno."
O esforço de Boulos para construir uma ponte ligando Covas a Bolsonaro contrasta com o silêncio do candidato do PSOL sobre o lodo que escorre da biografia de oligarcas do PSDB, o partido do seu rival. Nenhuma palavra, por exemplo, sobre os réus tucanos José Serra e Geraldo Alckmin, enroscados em casos de corrupção.
Alheio ao pântano em que se encontra mergulhado o seu PSDB, Bruno Covas aproveita a proximidade de Boulos com Lula e o PT para associar o adversário ao antipetismo, uma força eleitoral ainda muito forte em São Paulo.
Covas concentra suas críticas na ideologia. Afirma que PSOL e PT têm "a mesma raiz, a mesma linha, a mesma matriz ideológica." Nenhum pio sobre a passagem de Lula pela cadeia. Nada sobre mensalão ou petrolão.
A ausência de um debate franco sobre corrupção impõe à campanha de São Paulo um déficit estético. Há sobre o palco um balé de elefantes enlameados. Mas todos fingem que as trombas não estão em cena. A ética tornou-se um valor invisível na campanha de São Paulo.
Por Josias de Souza
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