Aquele lá que nos governa nunca foi muito bom da veneta. A derrota de Donald Trump, seu ídolo e suposto amigo — ambos falam o idioma da infâmia —, parece tê-lo perturbado ainda mais.
Vocês se lembram: logo nos primeiros meses de governo, Jair Bolsonaro tentou cavar uma guerra com a Venezuela. Homens chegaram a ser deslocados para a fronteira. Quem sabe uma escaramuça desse ao nosso líder a chance de ver correr sangue de venezuelanos e brasileiros... Felizmente, não aconteceu.
Pois é... Fiel à diplomacia psicopata de Ernesto Araújo, o presidente brasileiro não reconheceu a irreversível eleição do democrata Joe Biden. Trump é um histrião de verbo belicoso. Já o "capitão" se orgulha de sua origem militar, embora tenha sido espirrado do Exército.
Não podendo abrir fogo contra a Venezuela, o bufão decidiu, bem..., ameaçar os Estados Unidos com um conflito armado. Sim, vocês ouviram direito.
Bolsonaro é um Borat de extrema direita que pretende ser visto como pessoa séria. Ou melhor: o humor de Sacha Baron Cohen trata de assuntos graves, sim, embora escolha o caminho da galhofa. O presidente brasileiro é um "clown" involuntário que, no entanto, aspira à seriedade. Alguém que ignora a morte de mais de 160 mil pessoas e tripudia sobre cadáveres não tem graça. Desperta, na verdade, melancolia. Cohen, em seu novo filme, inclui Trump e Bolsonaro no Clube dos Tiranos.
Na solenidade em que chamou os brasileiros de "maricas", o presidente do Brasil ameaçou Joe Biden, futuro presidente dos EUA:
"Todo mundo que tem riqueza não pode dizer que é feliz, não, tem que tomar cuidado com a riqueza, porque está cheio de malandro de olho nela. E o Brasil é um país riquíssimo. Assistimos há pouco um grande candidato à chefia de Estado dizer que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, não é, Ernesto [Araújo, chanceler]? Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão, não funciona".
Observem que ele nem mesmo disse que haveria reação se americanos decidissem invadir a Amazônia. Não! Ele ameaçou usar "pólvora" contra os EUA caso estes imponham sanções ao Brasil em razão das agressões ao meio ambiente.
Digam-me: que tipo de governante ameaça os EUA "com pólvora", com guerra? O último que garganteou por aí um "pode vir quente que eu estou fervendo" foi Saddam Hussein...
Até o bufão pode ter achado que exagerou um pouco. E tentou se corrigir:
"Não precisa nem usar pólvora, mas tem que saber que tem. Esse é o mundo. Ninguém tem o que nós temos."
Oh, que grande realista. O Pentágono certamente tremeu ao pensar no poderio bélico brasileiro.
PROBLEMAS
Biden é o presidente eleito dos EUA e assumirá o cargo no dia 20 de janeiro. Bolsonaro deve achar que esse comportamento deseducado e cretino o coloca numa posição de força. É constrangedor.
E aí emendou o que poderia ser um credo liberal. Disse ser preciso fortalecer o Brasil, "liberando a economia, o livre mercado, dando liberdade para quem quer trabalhar, não enchendo o saco de quem quer trabalhar, de quem quer produzir".
Falava a empresários de turismo. Uma parcela do setor ambiciona empreendimentos em área de preservação permanente.
Ocorre que não era de liberalismo que falava Bolsonaro. "Encher o saco", no seu vocabulário, é precisamente sinônimo de restrições ambientais.
O Brasil deve ter uma produção recorde na safra de grãos de 2020/21, com produção estimada em 268,7 milhões de toneladas. O dado, fornecido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), prevê um volume 4,2% maior que o recorde anterior, de 2019/20: 257,7 milhões de toneladas.
Qual é o papel do desmatamento nesse recorde? Se houver, é marginal. As leis ambientais, especialmente depois do Código Florestal, fizeram com que o país ganhasse mercado. Mas isso é o que sabem os produtores de ponta. O discurso do "ninguém para encher o saco" não busca sensibilizar o agronegócio profissional.
Bolsonaro ameaça entrar em guerra com os EUA pelo direito de desmatar e queimar, como querem madeireiros e garimpeiros ilegais. Esse é o público que se deixa fascinar pelo seu discurso.
É evidente que Biden não dá a menor pelota para Bolsonaro. O país só entrará no radar do governo americano quando a questão ambiental exigir o protagonismo no novo presidente. E então ele dará atenção ao Brasil: como alvo.
Ainda bem que Bolsonaro pode responder com pólvora, né? A experiência adquirida na repressão a pretos de tão pobres e pobres de tão pretos do Haiti há de derrotar a maior máquina de guerra jamais criada na história da humanidade.
Só nos restará como arma secreta o inglês dos Eduardos: o Bolsonaro e o Pazuello.
Por Reinaldo Azevedo
3 comentários:
Ontem, 10/11/2020, em cerimônia realizada no Palácio, o presidente Bolsonaro disse que o Brasil tem de deixar de ser 'país de maricas' e enfrentar pandemia 'de peito aberto'.
Se o Capita é realmente um sarrista sortudo - que, inconsequentemente, foi eleito presidente pelo povo que acreditou em suas vãs promessas, certamente não ficará zangado com esse acróstico:
MARICAS
Mito, que modos são esses?
A insistir nessas teclas,
Razões descritas por Freud
Induzirão a muitos a sacar o seu lance,
Caro Capita – e, a inevitável pergunta:
A sua indissimulável homofobia reflete
Sua insegurança e medo de fraquejar?
AHT
11/11/2020
Saramandaia espelha a realidade do nosso país
# 1956, o Brasil adquiriu por 82 bilhões de cruzeiros um porta-aviões mais do que usado, o “Minas Gerais”, que precisou ser restaurado e só entrou em operação em 1960. Em 2001 foi desativado e acabou virando sucata lá na Índia. Esse porta-aviões inspirou a música “Brasil Já Vai A Guerra”, uma crítica sarcástica do menestrel Juca Chaves, um sucesso no início dos anos 60. Se quiserem ouvir, aqui: https://youtu.be/8POa5mdXLBQ
# 1961 – 1963, A Guerra da Lagosta entre Brasil e França girou em torno da captura ilegal de lagostas, por parte de embarcações de pesca francesas. Alertada por pescadores brasileiros, uma embarcação da Marinha do Brasil flagrou barcos de pesca franceses pescando lagosta clandestinamente na costa de Pernambuco, em águas territoriais brasileiras, sendo convidados a se retirar. O episódio passou a ser referido nos meios de comunicação brasileiros como a Guerra da Lagosta, um contencioso diplomático entre Brasil e França - que, como a famosa Batalha de Itararé, durante a Revolução de 1930, não foi disparado um tiro sequer.
# Novembro de 2020, o Capita depois de ouvir do Joe Biden algo que não lhe agradou, mandou um duro recado pra esse próximo presidente dos EUA: "Sai da carçada, ianqui marvado, si não lá vai pórvra!"
Brasil, onde a realidade produz piadas e piadas também podem produzir fatos reais.
Brasil dos sambas enredos; que ri das próprias desgraças; do ufanismo sempre pintando um amanhã pujante, mas ciente que terá se contentar com o pouco ou quase nada.
Brasil dos saudosos e geniais Barão de Itararé, Millôr Fernandes, Stanislaw Ponte Preta e Nelson Rodrigues.
Brasil reduzido a ouvinte de discursos e falas inconsequentes de um Boa Ideia, ou da Estocadora de Vento e, agora, de um Capita Tubainado que pensa que faz e acontece, com os seus militantes e seguidores ‘pra onde a vaca vai o boi vai atrás’ piamente acreditam e o levam a sério...
Saramandaia do Brasil, onde se espelha a realidade, o sério se digere com chacotas e com o limão se faz caipirinha.
AHT
11/11/2020
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