Jair Bolsonaro descobriu uma forma inusitada de prever o que está por vir. Ele cria o seu próprio futuro. Esboça para 2022 um rebuliço nos moldes do que Donald Trump promove nos Estados Unidos. Questiona desde logo a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro. Insinua que há fraudes sem exibir um mísero vestígio de prova.
"Temos que ter um sistema de apuração que não deixe dúvidas", disse Bolsonaro a um grupo de devotos. "Tem que ser confiável e rápido", ele acrescenta. "Não [pode] deixar margem para suposições." O presidente realçou o fato de que as urnas eletrônicas são uma peculiaridade brasileira. Como se o Brasil não fosse capaz de produzir algo que preste.
Para Bolsonaro, o voto só será seguro se for impresso. No último dia 9 de março, em visita aos estados Unidos, o presidente disse que só não venceu a eleição presidencial no primeiro turno porque houve fraude eleitoral. Assegurou que dispunha de provas. Prometeu mostrá-las. "Fui eleito no primeiro turno", disse Bolsonaro, em timbre categórico. "Teve fraude. E nós temos não apenas palavras, nós temos comprovado. Brevemente eu quero mostrar."
Decorridos oito meses, as provas que Bolsonaro exibiria em breve ainda não surgiram. Não vieram à luz porque não existem. Não há evidência de fraude nas urnas brasileiras. Ao contrário. Na campanha em que Aécio Neves foi derrotado por Dilma Rousseff, o tucanato duvidou do resultado. Pediu e obteve autorização para virar as urnas do avesso. Promoveu uma vasta auditoria. E deu o braço a torcer.
Se papel fosse sinônimo de tranquilidade, Trump já teria dado um telefonema para Joe Biden. A única segurança que interessa a Bolsonaro é a certeza do piti que ele dará na abertura das urnas de 2022, seja qual for o resultado.
Por Josias de Souza
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