segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Depois de bolsonaristas compararem mulheres de esquerda a cadelas, Eduardo, filho do pai, diz que as de direita ‘são muito mais higiênicas’



No ato na Avenida Paulista, neste domingo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse a seguinte perola:

“As mulheres de direita são muito mais bonitas do que as de esquerda. Não mostram o peito na rua e não defecam para protestar. Ou seja, as mulheres de direita são muito mais higiênicas que as da esquerda.”

Na terça passada, em Recife, em manifestação bolsonarista, um grupo cantou a seguinte delicadeza:

“Dou para CUT pão com mortadela
e para as feministas, ração na tigela.
As mina de direita são as top mais belas
enquanto as de esquerda
têm mais pelos que as cadelas.”

Se Bolsonaro ganhar, Eduardo certamente será um dos homens mais influentes do novo governo. E vejam ali o que acabou de fazer. Disse ainda que, em caso de vitória do seu pai, Lula vai para cela de presídio comum, como se fosse essa matéria afeita ao presidente. Não é.

Parece que o candidato, por meio de seus porta-vozes, está se oferecendo para ser o presidente apenas dos que votarem nele. Afirmar que alguém pode ser mais higiênico ou menos em razão de sua ideologia política traduz uma visão miseravelmente preconceituosa do mundo.

Não! Nem é o obvio preconceito contra a esquerda que chama a atenção — como se o esquerdismo não tivesse um conteúdo que merecesse a devida desconstrução. Eduardo Bolsonaro, certamente um homem forte no governo se o pai vencer, está traduzindo como enxerga todos aqueles que não estão com eles.

Muitos dos que estavam lá a aplaudir a sua fala — ou que o fazem no conforto do lar — certamente rejeitavam aquela clivagem que Lula fazia entre “Nós” e “Eles”. E que tanta censura mereceu neste blog. E merecerá sempre que for exercitada.

Eis a patota que parte considerável do antipetismo escolheu para representá-la.

Se o PT vai ou não voltar ao poder, isso não sei. As minhas antevisões são político-sociológicas. Antevi a ressurreição do partido, que ressuscitado está. Não tenho bola de cristal. Mas uma coisa eu sei: o bolsonarismo é mesmo a melhor chance que o PT tem de chegar ao poder.

No dia seguinte à maior manifestação da história do país liderada por mulheres, Eduardo Bolsonaro, falando em nome do pai, trata-as como coisas naturalmente sujas, que podem ser higienizadas pela ideologia, o que as levará, então, a não mostrar o peito na rua e a não defecar no chão. Sobre o quase vício nacional de homem mijar na rua e em áreas públicas, nem uma só palavra — nem mesmo contra os homens de esquerda… Machos não precisam passar por esse processo de higienização. Já as mulheres… Se tiverem pelos, merecem ser comparadas a cadelas…

Não é de estranhar que a única mulher do bolsonarismo que exercia, vamos dizer assim, um cargo na hierarquia da seita foi expulsa do partido. Letícia Catel, secretária-geral do PSL em São Paulo, foi defenestrada. Um dos homens da equipe do grande líder reduziu a ação: “chute no traseiro”.

E olhe que a moça, que se saiba, não é peluda, não mostra os seios nem faz cocô na rua.

Mas é mulher. E isso basta.

Os bolsonaristas estão, ademais, cometendo um erro. Mas não vou me esforçar para convencê-los disso.

Por Reinaldo Azevedo

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