quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Ameaça de Witzel de dar voz de prisão a Paes é ridícula


Witzel, quando ainda juiz, Bretas e o desembargador André Fontes.
CNJ pediu explicações a Bretas por declarações político-eleitorais

É um assombro que o candidato Wilson Witzel (PSC), que disputa o governo do Rio pelo PSC, tenha gravado um vídeo ameaçando de prisão seu oponente, Eduardo Paes (DEM), em pleno debate, caso, disse ele, o outro cometesse crime de injúria contra ele. Witzel acusa Paes de espalhar fake news contra ele. Prova? Nenhuma. Segundo o ex-juiz federal, só pode ser Paes… Diria que o raciocínio está mais ou menos adequado à metafísica destes tempos.

Trata-se de uma bravata, investindo na linha “super-homem, prendo, arrebento e aconteço”. Parece-me que o candidato abusa da sua condição de ex-juiz, como a dizer para o eleitorado: “Olhe aqui, eu sou muito poderoso, tá?” Não por acaso, Witzel grudou-se a Bosonaro, a quem já chama de “presidente” e, fica evidente, tenta ser a versão carioca do “capitão”. Até aí, vá lá. Ainda é parte do jogo. Ameaçar, no entanto, o oponente com voz de prisão é coisa que nem o original ousou fazer.

A possibilidade de acontecer algo assim é inferior a zero. No máximo, a depender do caso, os dois teriam de ir à delegacia, mas não porque Witzel tenha especial poder de dar voz de prisão a quem quer que seja. O poder que Witzel tem para prender Paes é o mesmo que Paes tem para prender Witzel. Ou, então, ele demonstre que estou errado.

A coisa é de um ridículo atroz. Este senhor tem de decidir se quer ser governador do Rio ou se pretende meter na cadeia quem discorda dele.

Se existe alguma vitima nesse imbróglio todo, vamos ser claros!, é Eduardo Paes.

A três dias da eleição, o buliçoso juiz Marcelo Bretas, amigo de Witzel, divulgou um depoimento de Alexandre Pinto, um ex-secretário de Paes, que o acusou de conivência com corrupção na Prefeitura do Rio envolvendo a Odebrecht. Atenção! Este senhor, corrupto confesso, já havia prestado vários depoimentos sem nunca ter mencionado o nome de Paes. Os delatores da empreiteira jamais envolveram o ex-prefeito e atual candidato ao governo em falcatruas.

Sim, tenta-se atribuir a votação robusta de Witzel a correntes na Internet, sobretudo de WhatsApp, ligadas ao bolsonarismo. Certamente existiram. Mas é evidente que o juiz que se notabilizou pela tempestade de processos contra Sérgio Cabral criou um fato eleitoral, que acabou beneficiando seu amigo, ainda que essa não fosse a intenção. Nesses casos, o que interessa e o fato.

CNJ

Ainda hoje me lembro da figurões da esquerda reunidos no Rio, segurando uma faixa de apoio a Marcelo Bretas, sob o estímulo do senador Randolphe Rodrigues (Rede-AP), que, por um tempo, virou o garoto-propaganda dos desmandos da Lava Jato contra o presidente Michel Temer. Pois é…

O Conselho Nacional de Justiça pede que Bretas se explique por manifestações políticas no dia da eleição. Informa o site “Jota”:

“O corregedor-nacional de Justiça, ministro Humberto Martins, determinou que dois juízes de segundo grau e três de primeiro prestem esclarecimento ao CNJ em até 15 dias por terem se manifestado politicamente durante as eleições. Antes do pleito, a Corregedoria havia publicado nota de recomendação, com base na Lei Orgânica da Magistratura, para que magistrados evitassem manifestações públicas e emitissem posições político-partidária em redes sociais, entrevistas ou em outros meios de comunicação.

Os juízes notificados pelo CNJ são Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio de Janeiro, Márcia Simões, da Vara do Júri de Feira de Santana (BA), e Isabele Papafanurakis, substituta da 6ª Vara Criminal de Londrina. De segunda instância, terão de prestar esclarecimentos Ivan Sartori, do Tribunal de Justiça de São Paulo, e Ângela Alves, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. “Eles terão 15 dias para apresentar informações a respeito de fatos narrados em notícias veiculadas por diversos veículos de comunicação quanto a manifestações públicas vedadas a magistrados. As notícias foram encaminhadas para cada um dos magistrados interessados”, diz a nota do CNJ.

O texto, porém, não cita quais manifestações de cada magistrado levaram ao pedido de providência. Bretas, por exemplo, parabenizou Flávio Bolsonaro e Arolde de Oliveira, que foram eleitos para o Senado pelo Rio de Janeiro. Já Sartori publicou em seu perfil nas redes sociais apoio ao candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL). Contra Márcia Simões pesa o fato de ter surgido nas redes uma foto dela com uma camiseta com foto do presidenciável do PSL.

Sobre Papafanurakis, surgiu nas redes sociais texto em defesa de Bolsonaro que foi atribuído a ela.”

Por Reinaldo Azevedo

Nenhum comentário: