sábado, 27 de outubro de 2018

Censura em universidades é um aviso hediondo



Juízes eleitorais de todo país ministraram uma aula de insensatez nesta reta final da corrida presidencial. A pretexto de coibir manifestações político-partidárias em universidades, ordenaram batidas policiais de busca e apreensão de faixas e cartazes contra o fascismo, suspenderam aulas e eventos sobre política, retiraram do portal de uma instituição artigo “a favor dos princípios democráticos”, etcétera e tal. As decisões judiciais não são um bom exemplo. Mas constituem um ótimo aviso. Jair Bolsonaro ainda nem foi eleito e já se pratica censura em seu nome.

Proibir a livre manifestação política em ambiente universitário é como privar um navio do contato com o mar. Fazer isso durante um processo eleitoral que se encontra pendurado até nas manchetes da imprensa estrangeira é um atentado contra a lógica, o interesse público e a Constituição Federal. Em ação protocolada no Supremo, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pede uma liminar para evitar novas arbitrariedades.

A peça de Raquel Dodge é um tratado sobre o óbvio. Ela escreve que é preciso ''evitar e reparar lesão a preceitos fundamentais resultantes de atos do Poder Público tendentes a executar ou autorizar buscas e apreensões, assim como proibir o ingresso e interrupção de aulas, palestras, debates ou atos congêneres e promover a inquirição de docentes (professores), discentes (alunos) e de outros cidadãos que estejam em local definido como da universidade pública ou privada.”

A Procuradoria contou 21 universidades alvejadas por ações repressivas. Mas os casos já são contados na cada das três dezenas. Suprema ironia: durante duas décadas de ditadura militar, as universidades foram sufocadas, num processo que asfixiou os líderes emergentes. Decorridos 33 anos do restabelecimento da democracia, tenta-se impor limites à autonomia universitária e ao pensamento dos universitários.

Uma liberdade de manifestação na qual não se pode manifestar, candidatos à Presidência de cuja capacidade de presidir não se pode duvidar, juízes eleitorais que não toleram o direito de opinião dos eleitores… Um jovem universitário que ainda não tenha se habituado com o ambiente democrático, fica tentado a exclamar para o Altíssimo: “Meu Deus, que ditadura mais frágil é essa nossa democracia!”.

Por Josias de Souza

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