O governador Tarcísio de Freitas em solenidade pelo 91º aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932 — Foto: Fernando Nascimento / Governo do Estado de SP |
O governador Tarcísio de Freitas sancionou a lei que institui as escolas cívico-militares em São Paulo. O programa virou bandeira eleitoral do bolsonarismo. Agora será implantado no estado mais rico e populoso do país.
O anúncio mobilizou a bancada da bala, que foi aplaudir o governador no Palácio dos Bandeirantes. O deputado Coronel Telhada definiu o aliado como “exemplo de homem público”. “A cada dia, nos faz mais felizes por sermos do seu time”, derramou-se. Tarcísio disse que os alunos vão “desenvolver o civismo” e “cantar o Hino Nacional”. Faltou explicar no que isso pode contribuir para melhorar o ensino.
Até aqui, o modelo só tem melhorado a vida de militares da reserva. Em São Paulo, policiais recrutados como inspetores receberão cerca de R$ 6.000, além da aposentadoria. Ganharão mais que o piso estadual dos professores, de R$ 4.580.
Em outros estados, escolas militarizadas têm sido palco de abusos e violência. No Distrito Federal, um aluno foi imobilizado com spray de pimenta e algemado após brigar com um colega. Em outro episódio, policiais apagaram um grafite em homenagem a Nelson Mandela, ícone da luta antirracista, e mandaram retirar cartazes sobre o Dia da Consciência Negra.
“Querem transformar escola em quartel e estudante em soldado”, critica a professora Catarina de Almeida Santos, que pesquisa o tema na Universidade de Brasília. “A vida militar é organizada pela hierarquia, e a escola deve ser um espaço de diálogo e respeito à diversidade. São valores diametralmente opostos”, resume.
A nova lei também entrou na mira de fundações privadas, que já estudam recorrer à Justiça. “É um retrocesso para as políticas educacionais e passa uma péssima mensagem para a sociedade”, diz Gabriel Salgado, gerente de educação do Instituto Alana. Ele afirma não haver evidência de que a militarização melhore o desempenho dos alunos. “O modelo ainda aumenta as desigualdades, porque tende a expulsar estudantes de grupos vulneráveis”.
Se não contribui com a aprendizagem, a pedagogia do cassetete pode render dividendos políticos. “A gente olha os alunos das escolas cívico-militares e vê que está diante de um novo Bolsonaro lá na frente”, exaltou Tarcísio, em discurso recente ao lado do padrinho.
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