quarta-feira, 15 de maio de 2024

Eduardo Leite, o “Jênio” do Rio Grande do Sul inundado



Quem não tem votos, ou só tem poucos votos, parece não se preocupar muito com o que diz. Se Lula dissesse algo parecido com o que disse Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul, o mundo desabaria na cabeça dele. Por muito menos já desabou.

Mas Leite é da terceira via, que tem forte apoio da mídia tradicional; só não tem votos. Leite quis ser candidato a presidente da República nas eleições passadas, mas faltou-lhe apoio dentro do seu partido, e, mais tarde, apoio dentro de outros partidos.

Então, depois de ter renunciado ao governo do seu Estado, voltou a se candidatar ao posto que deixou. Elegeu-se pela segunda vez governador porque parte do PT gaúcho votou nele. Planeja ser candidato a presidente da República em 2026 contra Lula.

Planeja, ou planejava, não se sabe. Com a tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, deveria dar-se por satisfeito se tivesse condições de disputar com chances uma vaga de senador ou de deputado federal. Mais seguro seria a de deputado federal.

É inevitável que parte da culpa pela tragédia acabe caindo sobre seus ombros. Vinha se comportando com altos e baixos desde o início das inundações – vinha. Mas aí fez uma declaração infeliz que seus adversários guardarão para usar quando chegarem as eleições.

Foi em entrevista à Rede Bandeirante de Televisão. A jornalista perguntou-lhe sobre o tamanho da necessidade de construção de moradias. Leite preferiu falar sobre doações:

“Sobre as doações, primeiro quero agradecer toda a solidariedade do povo brasileiro; a imensa solidariedade, a monumental solidariedade. E agradecer muito o que estão enviando ao Rio Grande do Sul. […] Aliás, um dos pontos que pedi à nossa equipe é que ajude a estruturar na medida do possível ferramentas e canais para que aquelas pessoas de outros locais que queiram fazer doações possam fazê-las ajudando o comércio local que está impactado.

Porque, na verdade, quando você tem um número tão grande de doações físicas chegando ao estado, há um receio, pelo que já observamos em outras situações, sobre o impacto que isso terá no comércio local. Você tem uma cidade que foi impactada, um comércio que foi impactado, e o reerguimento desse comércio fica dificultado na medida em que você tem uma série de itens que estão vindo também de outros lugares do país, mas eu não quero, pelo amor de Deus…

[Não quero] ser entendido como alguém que está desprezando isso, pelo contrário. Mas inclusive isso, também, gera uma preocupação aqui pra nós sobre o impacto no comércio local do Rio Grande do Sul. E acho que há caminhos que a tecnologia proporciona para que a gente encontre à disposição das pessoas de doar e ajudar com a necessidade local dos pequenos comerciantes, enfim, de buscar e se reerguer, de forma que todos estejam atendidos.”

Oi! O que disse ou quis dizer o governador? Que as doações que expressam “a monumental solidariedade” do povo brasileiro prejudicam o comércio local, e que algum caminho deve ser encontrado para que isso não aconteça? Como seria isso?

Não disse. Por acaso, Leite quer que as pessoas que perderam tudo gastem o dinheiro que venham a receber do governo a título de ajuda temporária com a compra de itens básicos no comércio local? E o que elas fariam depois para reconstruir suas vidas?

A fala de Leite viralizou. Um leitor escreveu:

“O que chegou de doação de fora, o comércio local não teria a mínima noção de atender. Em Passo Fundo, sem medo de errar, 90% da movimentação do comércio local é de itens para doação.”

Outro:

“Ele faz a ressalva para não ser mal interpretado, mas não é possível fazer qualquer outra interpretação que justifique essa fala dele. Mandou mal demais.”

E outro:

“Só faltou ele pedir para pararem de doar água pra não atrapalhar a turma que costuma cobrar 100 reais na garrafa em época de catástrofe.”

E outro:

“Ele tá zero preocupado com o pequeno, com o comerciante local. Isso aí é lobby dos grandes atacadistas.”

Dois leitores foram especialmente duros com Leite. Um limitou-se a escrever: “Jênio!”. O outro: “O Caramelo é mais inteligente.” Um terceiro: “Eu só acredito vendo… Eu vendo não acredito”.

Por Ricardo Noblat

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