Miriam Leitão
Uma maneira de estrangular o tráfico de drogas é cortando o fluxo de dinheiro. As contas dos bandidos podem ser rastreadas – não só a dos bandidos como a de pessoas direta ou indiretamente ligadas ao tráfico de drogas.
O Coaf é um órgão que faz a fiscalização das contas nos bancos e afirmou que pode fazer. Já foi feito isso no PCC em São Paulo e pode ser feito agora. Afinal, trata-se de uma atividade econômica – criminosa e bandida, mas é uma atividade econômica. Ela precisa dos mesmos elementos: capital de giro, fluxo de caixa, mercado e logística de distribuição.
Esta é uma hora, depois que se ocupou territorialmente o local, se começa a construir de forma inteligente e com informação os outros estrangulamentos. Assim, vai se matando a capacidade de sobrevivência da atividade econômica.
Além da ocupação policial e do estrangulamento do tráfico, também é preciso uma ocupação social para que esse tráfico não volte. Ontem passei o dia conversando com especialistas em favelas do Rio de Janeiro, e eles já têm várias informações e pistas de por onde começar o trabalho, tanto da prefeitura quanto do estado.
No morro por onde todos viram os bandidos fugindo será reflorestado e vai ser uma área de proteção ambiental. Tem outros pontos interessantes: o Alemão é diferente de outras favelas da Zona Sul do Rio de Janeiro, como o Pavão-Pavãozinho. Ele está instalado num entorno que não tem atividade econômica. É um cemitério de indústrias – foi um setor industrial e não é mais.
Como fazer para recuperar economicamente aquela área? É um dos desafios. Outro desafio interessante é o seguinte: o Alemão está muito estigmatizado. Há muito preconceito em relação à comunidade. As pessoas não diziam que nasciam lá. Não tem estatísticas boas. Uma das questões vai ser buscar essas informações.
Ontem, uma amiga pegou um táxi, e a primeira coisa que o motorista disse foi: ‘Eu sou do Alemão’, já recuperando a autoestima. Isso é o que os economistas chamam de ganho intangível
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