Todos os brasileiros vivem sob o mesmo céu. Mas nem todos compartilham o mesmo horizonte. Se você é negro, mora na periferia e tem o azar de cruzar com a polícia, sua existência pode ser mais curta.
O que estarrece no estudo sobre as vítimas da polícia em oito estados, divulgado nesta quinta-feira pela Rede de Observatórios da Segurança, não é a informação de que, em média, nove em cada dez mortos por policiais são negros. O que assombra é o fato de que a estatística não chega a ser surpreendente.
O maior problema do racismo no Brasil é o reflexo. Ninguém enxerga um racista no espelho. Muitos ainda sustentam que não há racismo estrutural no Brasil.
A principal utilidade da pesquisa sobre a letalidade policial na Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo é a reiteração de uma obviedade: os fatos não deixam de existir porque são ignorados.
Certeiro, o título da pesquisa anota que "a bala não erra o alvo negro". Os negros não frequentam a alça de mira apenas porque compõem a maioria nos bairros mais pobres. As balas são mais letais para os negros porque as polícias se estruturaram para isso.
Há método no flagelo. A abordagem policial na periferia não é a mesma nos bairros ricos ou remediados. A violência é maior onde é mais visível a vulnerabilidade social.
Não se muda o rumo da bala sem modificar a estrutura da organização policial.
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