quinta-feira, 25 de julho de 2019

Onipotência perdida e desespero fazem mal à inteligência de Moro



A mistura da onipotência perdida com o desespero de quem percebe que os caminhos para a desconversa vão se estreitando está fazendo mal ao ministro da Justiça, Sérgio Moro. Ele saudou, nesta quarta, a prisão de quatro pessoas acusadas de hackear o seu telefone; o de Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato, e de mais uma penca de autoridades. 

Escreveu no Twitter o ex-juiz com a ligeireza do tempo em que ainda usava toga:

"Parabenizo a Polícia Federal pela investigação do grupo de hackers, assim como o MPF e a Justiça Federal. Pessoas com antecedentes criminais, envolvidas em várias espécies de crimes. Elas, a fonte de confiança daqueles que divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime". 

A consideração é imprudente, irresponsável e, na verdade, pouco inteligente. É imprudente porque a investigação ainda está no começo, e o ex-juiz desconhece seus detalhes, por mais que tenha tido acesso privilegiado às informações.

É irresponsável porque é visível que está tentando ligar os presos às informações que o site The Intercept Brasil recebeu de fonte anônima. E é pouco inteligente porque, ainda que assim fosse, de tal invasão, então, teria resultado, segundo ele próprio, as mensagens que vieram à luz, certo? Se é assim, por que ele as classifica de "supostas"? 

Há mais: em sendo esses hackers os responsáveis por coletar diálogos desde 2015, supõe-se, então, que é possível confrontar o material — será que a Polícia o tem em mãos? — com aquilo que foi divulgado. Há especialistas nessa área de todos os matizes, não é? Moro está nos dizendo, por acaso, que é possível cotejar o que foi publicado com aquilo que foi encontrado pela PF? 

Oh, não, caras e caros! Não estou aqui a negar que essas pessoas presas estejam envolvidas com crimes digitais. A questão é saber como é que se estabelece a conexão pretendida por Moro entre, então, o fruto do crime e aquilo que foi trazido a público por The Intercept Brasil e outros parceiros da imprensa. Não parece que o perfil dos envolvidos seja exatamente o de pessoas que tenham especial interesse pelo devido processo legal.

Leandro Demori, diretor do site "The Intercept Brasil", reagiu com a devida dureza. Afirmou: 

"Está cada vez mais claro: Moro virou político em busca de um foro privilegiado pra poder falar impunemente em público as coisas que dizia antes em chats secretos. Nunca falamos sobre a fonte. Essa acusação de que esses supostos criminosos presos agora são nossa fonte fica por sua conta. Não surpreende vindo de quem não respeita o sistema acusatório e se acha acima do bem e do mal. Em um país sério, o investigado seria você".

TRUQUES 
Uma das informações que circularam de cara, com grande estardalhaço, é a de que o casal Gustavo Henrique Elias Santos e Suellen Priscila de Oliveira, por exemplo, movimentou entre abril a junho de 2018 e março a maio de 2019 R$ 627 mil, embora tenha renda mensal de R$ 5.058. Mais um pouco? Na casa deles, foram encontrados R$ 100 mil em dinheiro vivo. 

Os fanáticos no morismo esfregaram as mãos: "Oba!" 

Mas aí vem a informação. Diz o coordenador-geral de Inteligência da PF, João Vianey Xavier filho:

"O perfil dessas pessoas é relacionado a estelionato eletrônico. Estão relacionados a fraudes bancárias eletrônicas praticadas mediante internet banking, engenharia social em contato com possíveis vítimas e fraudes em cartão de crédito e débito, o que é muito comum, e a PF já tem expertise." 

Será esse o padrão de quem estaria articulado numa grande conspiração para acabar com a Lava Jato? Serão os presos desta quarta o grande instrumento para desmoralizar a operação? 

Afirma ainda o delegado:

"Aproximadamente mil números diferentes foram alvos desse mesmo modus operandi por essa quadrilha. Então, há a possibilidade, a gente não tem ainda uma identificação, começamos ainda a fazer isso, há a possibilidade de, realmente, um número muito grande de possíveis vítimas desse mesmo tipo de ataque que está sendo investigado". 

Eis os hackers que integrariam, então, uma grande conspiração para, como é mesmo?, acabar com a Lava Jato e defender a corrupção. 

Só o desespero pode enxergar nesse perfil de invasores as personagens de uma grande tramoia política. 

Moro tem de ser mais responsável. Agora ele é chefe formal da PF. Não é mais o imperador da 13ª Vara Federal de Curitiba.

Por Reinaldo Azevedo

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