terça-feira, 23 de julho de 2019

Comunidade científica defende Inpe: 'Presidente está mal informado'



A comunidade científica saiu em defesa do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) após críticas de membros do governo Jair Bolsonaro (PSL) ao trabalho do instituto, incluindo declarações do próprio presidente.

O movimento pró-Inpe também rechaça cortes no orçamento do instituto, que chegou a perder 32,5% dos recursos anuais após contingenciamento do governo.

Parte da verba foi recuperada após gestão junto ao ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes.

Nesta segunda-feira, o governo anunciou um novo bloqueio de R$ 1,4 bilhão do orçamento federal, mas não apontou de quais ministérios a verba pode ser retirada.

A reação pró-Inpe ganhou impulso neste final de semana após entrevista de Bolsonaro à imprensa estrangeira, na sexta-feira, quando ele classificou como "mentirosos" dados do Inpe sobre o desmatamento da Amazônia. Os dados são internacionalmente reconhecidos por sua qualidade.

Além disso, Bolsonaro também insinuou que o diretor do Inpe, Ricardo Galvão, no cargo desde setembro de 2016, teria ligação com ONG: "Mandei ver quem está à frente do Inpe. Até parece que está a serviço de alguma ONG, o que é muito comum", disse o presidente.

No último domingo, em carta endereçada ao ministro Pontes, 21 membros da comunidade científica brasileira defenderam o Inpe.

Entre os que subscrevem o texto, estão Osvaldo Luiz Leal de Moraes, do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), e Antonia Maria Ramos Franco Pereira, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).

"Acreditamos que o Senhor Presidente está mal informado sobre o processo envolvido na coleta de dados científicos, sobre os mecanismos de aferição da confiabilidade e transparência dos dados", afirmaram.

E criticaram as insinuações de Bolsonaro sobre manipulação de dados.

"Como qualquer atividade humana, os dados poderiam ter falhas. No entanto, os mecanismos de controle e da validação dos dados asseguram que a existência de falhas seja rapidamente corrigida e quando publicadas sejam confiáveis. Dados científicos não devem ser passíveis de manipulação para atender conveniências políticas."

Eles ainda reforçaram a "integridade" de Galvão, disseram que o currículo dele pode ser conferido na internet e concluíram cobrando promessa de Bolsonaro de priorizar a área de tecnologia.

Ministro da Ciência solicita informações e convida diretor para esclarecimentos

Em nota divulgada nesta segunda-feira, Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia, disse que está pedindo ao Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) dados consolidados sobre o desmatamento da Amazônia nos últimos 24 meses. Ele também afirmou que o diretor do instituto, Ricardo Galvão, foi convidado para "esclarecimentos e orientações". No comunicado, Pontes disse ter "grande apreço" pelo Inpe, mas que entende e compartilha da estranheza "expressa pelo nosso presidente Bolsonaro quanto à variação percentual dos últimos resultados na série histórica".

O ministro disse ainda que discorda do " meio e da forma utilizada pelo diretor" do Inpe para responder ao presidente.

Galvão classificou a declaração de Bolsonaro como "covarde" e disse que não pediria demissão. "Em consequência, o Diretor do Inpe foi convidado pelo MCTIC para esclarecimentos e orientações", disse Pontes.

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