segunda-feira, 22 de julho de 2019

Irã: Bolsonaro fala grosso com governadores da “Paraíba” e fino com Trump


O navio iraniano Bavand próximo ao porto de Paranaguá, no Paraná

"Existe esse problema, os EUA, de forma unilateral, têm embargos levantados contra o Irã. As empresas brasileiras foram avisadas por nós desse problema e estão correndo risco nesse sentido. Eu, particularmente, estou me aproximando cada vez mais do [presidente dos EUA, Donald] Trump."

Essa soma de anacolutos só compreensível com alguma boa-vontade saiu da mente divinal do presidente Jair Bolsonaro. É um espanto. Navios iranianos que trouxeram ureia ao Brasil e voltariam a seu país carregados de milho estão impedidos de partir porque sem combustível. A Petrobras se nega a lhes fornecer o produto em razão de embargos impostos pelos EUA ao Irã.

É uma piada. As medidas não alcançam a venda de alimentos e remédios. Assim, o Brasil está sendo mais trumpista do que o próprio Donald Trump.

A empresa Eleva, responsável pela carga dos navios, recorreu à Justiça para tenta obrigar o abastecimento. Perdeu em primeira instância, venceu em segunda, mas a União recorreu. E o caso foi parar no Supremo. Raquel Dodge, procuradora-geral da República, em manifestação enviada ao tribunal, defendeu o não-abastecimento.

É impressionante! As sanções americanas atingem o setor de petróleo. É uma estupidez que a medida alcance a venda de combustíveis para navios que transportam alimentos. Se estes não se incluem entre os itens sancionados, de algum modo precisam chegam àquele país. Sem combustível, como seria possível?

A coisa é de tal sorte ridícula que países como China, Índia, Itália, Japão, Turquia, Coreia do Sul e Índia, que compram petróleo iraniano, podem continuar a fazê-lo para não criar um impacto nos preços internacionais. Mas o Brasil, que vende milho, soja e ração animal ao Irã, estará proibido, então, de exportar commodities agrícolas.

Entenderam? Donald Trump é agora quem decide com quem o Brasil pode fazer comércio. E assim é porque Bolsonaro "está se aproximado cada vez mais" e "particularmente" do presidente norte-americano, segundo a voz do mandatário brasileiro.

Eis aí evidenciada a diferença entre um país aliado e outro que se coloca como mero sabujo dos interesses do "sinhozinho".

Cadê a chamada "bancada ruralista" para protestar? Se o Brasil não pode vender seu milho para o Irã, um dos principais destino do que produzimos aqui, vai vender para quem?

Aliás, na presença daquele a quem trata como chefe, mal consegue esconder o ar de encantamento basbaque e a cara de aliado servil.

E quem vai pagar a conta é o Brasil.

E olhem que o fritador de hambúrguer ainda nem é o nosso embaixador…

Por Reinaldo Azevedo

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