Um Getúlio Vargas surpreendente emerge das páginas de Getúlio, o primeiro volume da trilogia que o jornalista Lira Neto lança pela Companhia das Letras em maio. Uma das revelações do livro é o discurso de formatura do jovem Vargas, na Faculdade de Direito de Porto Alegre,em 1907.
Ali, aos 25 anos, surge um Vargas seduzido pela filosofia de Nietzsche (“esse alucinado genial”) e crítico à condição da mulher de então (“Amesquinhada, ser inferior, serpente tentadora do mal”).
Noutro trecho, investe contra o cristianismo (“A moral cristã é contrária à natureza humana, inimiga da civilização”) e ataca sua moral sexual (“O cristianismo desnaturou a grandeza da sexualidade” ou seja, “a união dos seres numa transfusão do magnetismo amoroso, considerado pelos cristãos como um comércio impuro”).
Se hoje tal discurso já causaria polêmica para um político, há cem anos impediria qualquer carreira de decolar. Por isso, os anos se passaram e Vargas trancafiou o libelo, do qual nunca mais se teve notícia.
Escondeu o seu conteúdo da própria família. Em 1977, Alzira, sua filha, doou uma série de documentos à Fundação Getúlio Vargas (FGV ), mas, por escrito, recomendou expressamente sobre o texto inflamado: “não pode e não deve ser publicado, sob hipótese alguma”.
A recomendação, ainda bem, não foi respeitada por Lira Neto.
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