quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Quando percebeu a sujeira, Cid já estava com a lama pelo nariz


Mauro Cid

Como ajudante de ordens, Mauro Cid conheceu a precariedade de Bolsonaro na intimidade. Demorou a perceber que o sucesso de um enganador depende da confiança dos ingênuos. Em mensagem disparada no dia 4 de abril, o tenente-coronel reconheceu no escurinho do WhatsApp que o capitão o arrastava para a lama. Era tarde. Com lodo pelo nariz, foi preso um mês depois, em 3 de maio. Desde então, acompanha pela TV de sua cela especial a desfaçatez do ex-chefe.

Cezar Bitencourt, terceiro advogado de Cid, informa que seu cliente "está colaborando". Quebrou o silêncio depois que o barro do escândalo das joias respingou no uniforme do seu pai, o general Lourena Cid. O teor da colaboração permanece em sigilo. Mas sabe-se que a língua do ex-faz-tudo ficou mais à vontade depois que Bolsonaro declarou que seu ajudante de ordens "tinha autonomia" para passar nos cobres as joias da Coroa.

Ficou subentendido o seguinte: A defesa de Bolsonaro sustenta que ele tem direito de propriedade sobre as joias presenteadas por chefes de Estado estrangeiros. Mas a culpa será sempre do tenente-coronel Mauro Cid caso prevaleça no Judiciário a percepção de que houve peculato e lavagem de dinheiro.

Imaginando-se que tenha um terço da inteligência que o Exército lhe atribui, Mauro Cid deve ter acreditado só em metade do que ouviu de Bolsonaro. Descobre agora, da pior maneira, que deu crédito justamente à metade que era mentirosa. O diabo é que Cid não pode nem alegar surpresa.

Bolsonaro deixou o Exército pela porta de incêndio de um inquérito militar em que era acusado de tramar um atentado a bomba contra uma adutora. Eleito presidente, teve que lidar com a assombração do operador de rachadinhas Fabrício Queiroz. Esgueirou-se pelos meandros desses casos, como em todos os outros, brincando de realidade paralela. Jamais hesitou em arrastar para o lamaçal quem estivesse em volta —civil ou militar. Resta saber qual o volume do lodo que Mauro Cid está disposto a devolver.

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