domingo, 17 de setembro de 2023

Praça dos Três Poderes emite sinais trocados à democracia


Ataque no 8 de janeiro Imagem: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Os fatos que marcaram a semana mostram que a Praça dos Três Poderes ainda tem muito a desaprender com a intentona do 8 de janeiro. Num instante em que o Supremo Tribunal Federal tenta pular a fogueira do golpismo, exibindo sua mão forte aos executores do ataque à democracia, a Câmara joga gasolina na fogueira desembrulhando um pacote legislativo que subverte os valores mais comezinhos do regime democrático. Por uma armadilha da sorte, esta sexta-feira é o Dia Mundial da Democracia.

De um lado da praça, o Supremo levou à vitrine desde quarta-feira as três primeiras condenações de executores da destruição dos prédios que abrigam os Poderes da República. Dois amargaram sentenças de 17 anos de cana. Um pegou 14 anos. O tamanho das penas sinaliza a disposição de reconstruir pelo exemplo os alicerces do sistema. No prédio ao lado, a Câmara colocou em pé propostas que implodem o que resta de decente na legislação eleitoral e detona as regras de controle das verbas públicas usadas no financiamento dos partidos e das eleições.

No pedaço do pacote já aprovado há uma minirreforma eleitoral que impõe uma macrodesmoralização. Fleixibilizaram-se as cotas para candidaturas de negros e mulheres, apagou-se o que ainda havia de probo na Lei de Improbidades, a Lei da Ficha Limpa foi passada a sujo, abriram-se as portas para a compra de votos, desligaram-se as luzes do sistema de controle dos dutos por onde escoam os recursos do Tesouro Nacional para as arcas dos partidos.

No pedaço do embrulho que deve ser votado na próxima semana, há uma emenda constitucional que concede a mais ampla e desavergonhada anistia da história. Vão à lata do lixo multas aplicadas pelo TSE a partidos que malversaram verbas públicas. A implosão da moralidade é comandada por Arthur Lira, com o apoio de gregos, bolsonaristas, troianos e petistas.

Quem olha de longe para a praça onde estão assentados os Poderes, assiste impotente a um espetáculo desconexo. O Supremo, munido de extintor, tenta apagar o fogo dentro do teatro. A Câmara faz o seu teatro de absurdos dentro do incêndio. Do meio da fumaça pode sair muita coisa, exceto a reconstrução da democracia.

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