quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Arraia-miúda tem preferência na fila do cadafalso do 8 de janeiro



Começa nesta quarta-feira, no plenário do Supremo Tribunal Federal, o primeiro ato do espetáculo do julgamento dos encrencados na intentona de 8 de janeiro. Vão à forca 4 dos 1.341 réus acomodados na longa fila do cadafalso. Ao final, restarão sentenças draconianas e a incômoda sensação de que a corda arrebentou primeiro nas mãos menos poderosas.

Serão julgados Aécio Lúcio Costa Pereira, Thiago de Assis Mathar, Moacir José dos Santos e Matheus Lima de Carvalho Lázaro. Sujeitos a penas de até 30 anos de cadeia, eles têm duas coisas em comum: saltaram da figuração para o estrelato porque imprimiram suas digitais no quebra-quebra dos prédios do Congresso, do Supremo e do Planalto. Realçam com sua presença anônima na boca do palco a ausência de ilustres idealizadores, instigadores e financiadores da tentativa de golpe.

O Brasil viveu, desde a eleição de 2022, um show de horrores. No dia do segundo turno, a Polícia Rodoviária Federal parava ônibus de eleitores no Nordeste. Abertas as urnas, o derrotado trancou-se no Alvorada antes de se refugiar na Flórida. Às vésperas do Natal, incendiaram-se carros e ônibus em Brasília. Três pessoas confessaram o plano para explodir um caminhão de combustível nas proximidades do aeroporto da Capital. Derrubaram-se torres de transmissão de energia ao redor do país.

Às vésperas do 8 de janeiro, centenas de ônibus chegaram a Brasília. Manifestantes pediam um golpe acampados na frente do QG do Exército. Sob monitoramento do governo, as redes sociais convocavam as pessoas para comer o bolo numa "Festa da Selma". Serviram-se da iguaria sem ser molestados pela PM do Distrito Federal e pelo Batalhão da Guarda Presidencial.

O estrago foi dilacerante. Um painel de Di Cavalcanti foi esfaqueado. O relógio de Dom João 6º foi atirado ao chão. A mesa do Senado foi tomada por vândalos. Até o armário de togas do Supremo foi violado. Uma minuta de golpe foi fisgada na casa do ex-ministro da Justiça.

Uma semana antes do início do julgamento desta quarta-feira, o ex-ajudante de ordens do monarca descoroado tornou-se um delator. Ele conta seus segredos no escurinho dos bastidores. Se a eletrificação da conjuntura política serve para alguma coisa é para evidenciar que há no plenário do Supremo um déficit de personalidades políticas, de fardas estreladas e de saldo médio. A preferência concedida à arraia-miúda na fila do cadafalso sugere um velho padrão: a dificuldade do Judiciário brasileiro de punir poderosos.

Nenhum comentário: