terça-feira, 5 de setembro de 2023

Oito meses depois, bolsonaristas assinam de novo a autoria do 8 de janeiro



Assiste-se, com frequência, na CPMI do 8 de Janeiro, a manifestações explícitas de delinquência política, com os esforços dos bolsonaristas para transferir para o governo a responsabilidade pelas barbaridades do 8 de janeiro. Por mais surrealista que pareça, é assim. E não se deve esperar dessa gente um mínimo de bom senso. A deputada Bia Kicis (PL-DF) publicou nas suas redes a cerimônia de um casamento em que a noiva exibe, orgulhosa, uma tornozeleira eletrônica, e o seu véu é a bandeira do Brasil. Verdade ou mentira — sei lá se a dita-cuja era mesmo uma das golpistas presas —, o que se faz ali é macular um dos sacramentos do catolicismo com a apologia do golpe. A deputada, assim, evidencia, como se isto fosse necessário, a vigarice do discurso de seus pares.

Se é verdade que a nubente foi presa a 9 de janeiro em razão dos atos do dia anterior, vê-se que a prisão preventiva não à levou a nenhuma forma de arrependimento — outro valor importante para um cristão — ou reflexão. De tal sorte, então, achou apropriado o que fez que resolveu deixar um importante evento de sua vida pessoal ser marcada pelos atos criminosos que traumatizaram para sempre a história de um país.

Por que faço essas considerações? Nas redes sociais, os extremistas bolsonaristas — extremistas de Internet, talvez; o fato é que ganharam concretude, não é? — pregam o boicote aos atos oficiais do 7 de Setembro. A intenção, então, e que um evento esvaziado expresse o suposto descontentamento do "povo" com o governo e com as Forças Armadas.

Não só isso: numa outra evidência escancarada de que queriam os fascistoides, os militares estão sendo xingados e vilipendiados porque não houve o... golpe — que, é claro!, essa gente trata como se fosse só uma intervenção restauradora. A decepção é mesmo profunda entre os ditos "patriotas". Pesquisa Genial/Quaest do mês passado indica que o prestígio dos militares teve uma queda importante: caíram de 43% em dezembro do ano passado para 33% os que dizem "confiar muito" nos fardados.

Esquerdistas e progressistas, no geral, não são exatamente fanáticos por uniformes e coturnos. Há fatores históricos que explicam e não me aterei a eles agora. Importante destacar que, entre os eleitores de Lula, variou de 27% para 29% os que "confiam muito" na categoria e de 45% para 43% os que responderam "um pouco". A despencada se deu entre os que sufragaram o nome de Bolsonaro: a confiança para valer caiu de 61% para 40%, e os que disseram "um pouco" subiram de 31% para 38%. Entre os eleitores do dito "capitão", os que não confiam saltaram de 7% para 20%, em empate técnico com os que escolheram o nome do petista: variaram de 25% para 26% os que expressam desconfiança.

Notem que a apreciação positiva sobre as Forças Armadas ainda é muito maior entre os eleitores do golpista do que entre os que votaram em Lula (40% a 29%), mas a corrosão de prestígio se deu justamente entre os devotos do arruaceiro. E é para essa parcela que as falanges, inclusive aquelas que tentam se fingir de "imprensa alternativa", fazem a pregação do boicote ao 7 de Setembro — como se isso, de resto, pudesse vir a ser o preditor de alguma coisa relevante.

OUTROS NÚMEROS
E, obviamente, ainda que a ausência dos bolsonaristas preencha uma lacuna ética e moral, o que isso significaria além de nada?

Segundo a Quaest de agosto, o governo Lula é considerado bom ou ótimo por 42% do eleitorado; para 29%, é regular, e só 24% dizem ser "ruim/péssimo". Note-se que o "bom/ótimo" significa uma avaliação realmente convicta. Lembro que o presidene foi eleito por 39% do total dos eleitores — descontados os que escolheram Bolsonaro, as abstenções e os votos brancos e nulos. Nada menos de 60% aprovam o trabalho de Lula — e isso indica que aquele "ótimo/bom" tem muito espaço para crescer.

Mais um pouco: na cidade de São Paulo, informa pesquisa Datafolha dos dias 29 e 30, 32% se dizem petistas, e 6% "mais próximos do PT"; afirmam ser bolsonaristas 15%, e 6%, "mais próximos de Bolsonaro". Fizeram as contas? 45% a 21%. Dizem não votar de jeito nenhum em um candidato a prefeito apoiado pelo comerciante de joias espantosos 68% — a oposição a alguém com o suporte do atual presidente é de apenas 37%. Afirmam que escolherão quem Lula indicar 23%; no caso do homem do Rolex, apenas 13%.

CAMINHANDO PARA O ENCERRAMENTO
O que pretendem os extremistas ao pregar o boicote ao 7 de Setembro, planejado já para ser mais modesto do que o do ano passado? Evidenciar que Lula estaria distante do povo? A realidade objetiva indica como andam a popularidade do atual presidente e a do seu antecessor.

A pregação que está nas redes, o ataque virulento aos militares e a cerimônia que mistura casamento e golpismo, exaltada por Bia Kicis, servem como assinatura na obra de 8 de janeiro. E não posso deixar de exaltar a decisão: fiquem mesmo longe do 7 de Setembro. A data não merece a pestilência do golpismo.

E que o governo tome todas as providências para garantir paz e segurança na data. O lobo troca de pelo, mas não de vício.

Nenhum comentário: