sábado, 2 de setembro de 2023

'Joias estão virando o tríplex do Bolsonaro', lamenta ex-ministro



Juridicamente, o silêncio de Bolsonaro foi a saída encontrada pelos advogados para ganhar tempo no inquérito sobre as joias. Serve para questionar a legitimidade de Alexandre de Moraes como juiz da causa, enquanto a defesa tenta dimensionar o tamanho do estrago produzido pela colaboração do tenente-coronel Mauro Cid.

Politicamente, aliados avaliam que a estratégia deve abrir uma fenda de difícil reparação na imagem de Bolsonaro. Um ex-ministro compara o drama de Bolsonaro com o calvário vivido por Lula no auge da Lava Jato: "As joias estão virando o tríplex do Bolsonaro", disse, num timbre de lamento.

Ao enumerar as semelhanças, o ex-auxiliar de Bolsonaro mencionou "o fator da vantagem pessoal", o surgimento de um réu-colaborador, a efervescência do noticiário e um juiz obstinado. A diferença, disse ele, é que Sergio Moro, o algoz de Lula, atuava no térreo do Judiciário. Havia três instâncias recursais acima dele. Alexandre de Moraes, o carrasco de Bolsonaro, opera no Supremo, na cobertura do sistema judicial. São menores as chances de reverter eventuais sentenças condenatórias.

Somando-se os três depoimentos mais recentes, Mauro Cid falou aos investigadores da Polícia Federal por cerca de 24 horas. Quando anunciou a disposição do ex-ajudante de ordens de "colaborar", Cezar Bitencourt, o terceiro advogado de Cid, declarou que ele revelaria detalhes da venda e da recompra de um relógio Rolex. Suspeita-se que tenha repassado à PF muitos outros segredos.

Na avaliação do ex-ministro, o caso das joias, assim como o processo que resultou na prisão de Lula, é de fácil compreensão. A exemplo do sucessor, Bolsonaro passou a enfatizar supostos vícios processuais. A diferença é que, embora questionasse a legitimidade de Moro para julgá-lo, Lula não se negou a depor quando foi intimado.

O receio dos aliados é que o medo das revelações de Mauro Cid produza um antibolsonarismo semelhante ou superior ao antipetismo que impulsionou a vitória de Bolsonaro em 2018.

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