sábado, 16 de janeiro de 2016

O feio é mais barato?


José Roberto Nalini
Fico desolado quando viajo e constato a pobreza estética dos núcleos habitacionais. Uma casinha encostada à outra, sem espaço para um jardim, para uma horta. Sem árvores defronte às casas, numa repetição monótona e feia.

Será que é mais barato construir conjuntos idênticos, padronizados, que não admitem distinção entre uma residência e outra? Será que não temos arquitetos nem estudantes de Arquitetura que poderiam elaborar projetos mais ambiciosos, mais estéticos e até mais baratos?

Nesse ponto, como em tantos outros, evidenciamos nossa indigência ou pobre imaginação. Enquanto reproduzimos o modelo arcaico e pobre de uma arquitetura medíocre, esquecendo-nos que produzimos Niemayer, Paulo Mendes da Rocha, Vilanova Artigas, Jean Maitrejean, Ariosto Mila, Araken Martinho e tantos outros, povos que se encontram anos-luz à nossa frente adotam soluções consentâneas com as necessidades ambientais e com a beleza.

O Centro de Convenções Jacob K.Javitz, em Nova York, era um edifício causador da morte de inúmeras aves que se chocavam com sua fachada espelhada. Depois de uma reforma que levou cinco anos, novos painéis de vidro com estampas reduziram em 90% a morte de aves. Construiu-se um telhado verde coberto de sedum, planta rasteira resistente e utilizada em coberturas verdes. O resultado foi atrair mais de onze tipos de aves: tordos, falcões, gaivotões-reais e tantos outros. Morcegos e insetos, que servem de alimentação, também se hospedaram no espaço ambiental.

As abelhas também voltaram. Três colmeias foram montadas e ali produziram mel. Outro projeto interessante foi uma horta plantada sobre um telhado em St. Louis, no Missouri. Verduras orgânicas plantadas pelo projeto Food Roof Farm – Horta Alimentícia de Telhado, abastecem a comunidade.

Além de tudo o que produzem para melhoria da qualidade de vida, provocam a solidariedade entre as pessoas. Quem trabalha em conjunto num jardim, horta ou pomar, fica amigo, companheiro e convive em harmonia. Reduz-se a violência, o estranhamento e até o estresse.

Aqui, o lixo toma conta de todos os espaços. Pessoas se acomodam em desvãos e vivem na rua, na mais absoluta indignidade. Também, o que o governo oferece em termos de moradia é um amontoado horroroso de gente que se acotovela, sem um verde, uma flor, uma árvore. Pobre Brasil!

José Roberto Nalini é Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo

Um comentário:

Brasilino Neto disse...

Ranato Nalini isto aqui se dá, pois a intenção não é realmente propiciar ao cidadão dignidade de vida, mas simplesmente fazer aquilo que é "politicamente correto". Desta forma não há preocupação em fazer a coisa de forma boa e bonita, de forma que acirrem os ânimos daqueles que são ali 'depositados' tornando verdadeiros guetos. A expressão certa é esta mesma: "Depositado"