terça-feira, 9 de abril de 2019

Weintraub chama Lula de ‘9 dedos’ e ‘sicofanta’


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Uma das características que Jair Bolsonaro mais admira em Abraham Weintraub, o novo ministro da Educação, é o seu "viés ideológico" e a forma rude como ele trata o petismo. Ele se refere a Lula como "Nove Dedos". Xinga o ex-presidente petista de "sicofanta" (patife, impostor). 

Em setembro de 2018, numa transmissão ao vivo pela internet, o agora ministro da Educação insinuou que o programa de governo de Bolsonaro romperia paradigmas. Para enfatizar seu ponto de vista, evocou Lula: "Como diria o Nove Dedos, nunca antes na história republicana se discutiu esse tipo de coisa.

Nessa exposição, conforme já noticiado aqui, Weintraub sustentou a tese segundo a qual universidades do Nordeste não deveriam oferecer cursos de disciplinas como sociologia e filosofia. Acha que a prioridade deveria ser o ensino de agronomia, em parceria com Israel. 

"Em Israel, o Jair Bolsonaro tem um monte de parcerias para trazer tecnologia aqui para o Brasil", declarou. "Em vez de as universidades do Nordeste ficarem aí fazendo sociologia, fazendo filosofia no agreste, [devem] fazer agronomia, em parceria com Israel. Acabar com esse ódio de Israel. Israel, nas faculdades federais, é loucura o que você escuta, né?" 

Em dezembro de 2018, quando Bolsonaro já havia prevalecido nas urnas sobre o rival petista Fernando Haddad, Weintraub participou de uma "Cúpula Conservadora" idealizada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Dividiu o palco com seu irmão, o advogado Arthur Weintraub, hoje assessor de Bolsonaro. 

Numa palestra em que defendeu o expurgo do "marxismo cultural" nas universidades por meio de uma adaptação das teses do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, o agora ministro perguntou ao irmão a certa altura: "Não posso xingar o Lula, né Arthur?". E emendou: "O sicofanta do Lula… Ele nunca vai saber o que é sicofanta…" 

No mesmo evento, Abraham Weintraub revelou-se obcecado pelo comunismo. Ao responder sobre reforma da Previdência, tema do qual se ocupava na equipe de transição de governo, ele declarou: "A reforma está sendo propositalmente escondida, para evitar tiroteio desnecessário antes. Mas ela está bem avançada…" 

Nesse ponto, o orador emendou, do nada, uma teoria que acomoda "comunistas" nos locais mais insuspeitados: "A gente não chegou nessa situação porque os comunistas são pobres. Os comunistas estão no topo do país. Eles são o topo das organizações financeiras; eles são os donos dos jornais; eles são os donos das grandes empresas; eles são os donos dos monopólios…" 

Abraham Weintraub prosseguiu: "Os monopolistas apoiaram Lula, estavam dando dinheiro para o Haddad. A gente não conseguiu ter um apoio de qualquer grande instituição durante a campanha. E qual foi a sacada? Desintermediar. Houve uma comunicação do Jair Bolsonaro e toda a campanha diretamente com o povo através das mídias sociais." 

O novo titular da Educação talvez enfrente dificuldades se precisar submeter alguma proposta à apreciação do Congresso. Na palestra à plateia conservadora, Weintraub falou em voz alta sobre o desprezo que o governo Bolsonaro dedica à oligarquia que controla os principais partidos políticos no Legislativo. 

"Acho que agora, capitaneado pelo Onyx Lorenzoni [chefe da Casa Civil], está se tentando fazer a mesma coisa [a desintermediação] no Congresso. Os antigos parlamentares, que eram donos de grupos, grupelhos, estão sendo atravessados, para chegar diretamente à base de apoio, para conversar republicanamente com a base de congressistas. A Estimativa é que a gente vai ter 350 [deputados] na base [de apoio ao governo]. Mais do que suficiente para passar tudo o que for necessário." 

Depois dessa palestra, Weintraub tornou-se o número dois da Casa Civil. Deve ter percebido nos primeiros 100 dias de governo que a pretensão de Bolsonaro e Lorenzoni de "atravessar" os caciques do Legislativo para "conversar republicanamente com a base de congressistas" resultou em fiasco. No momento, Bolsonaro dedica-se justamente a receber os velhos tecelões dos partidos.

Por Josias de Souza

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