quinta-feira, 11 de abril de 2019

Com 13º do Bolsa Família, Bolsonaro tenta ocupar última cidadela do petismo



Eleito graças ao impulso que recebeu do antipetismo, maior força eleitoral de 2018, Jair Bolsonaro realiza uma nova incursão no universo político do PT. Com a criação do 13º do Bolsa Família, o capitão invade a última cidadela do rival: os bolsões de pobreza situados nas regiões Norte e Nordeste e nas periferias das grandes cidades. O movimento coincide com a queda da popularidade do presidente. 

Deve-se a iniciativa a uma promessa de campanha. Foi a forma que Bolsonaro encontrou para imunizar-se contra o veneno espalhado pelo PT de que ele acabaria com o Bolsa Família se chegasse ao Planalto. Coube ao ministro Osmar Terra (Cidadania) coordenar os estudos para colocar a providência em pé. O mimo vai custar R$ 2,6 bilhões. Alega-se que o dinheiro virá da supressão de fraudes. 

Em 2011, quando era deputado federal pelo MDB do Rio Grande do Sul, o mesmo Osmar Terra escreveu no Twitter: "Um programa social que não estimula a emancipação dos chefes de família, que não promove a sua autonomia a médio prazo, é uma coleira política". 

Na prática, Bolsonaro tenta retirar a clientela do Bolsa Família da "coleira política" do PT, assumindo ele próprio o controle. Imagina que, atraindo a simpatia remunerada dos membros das 14,1 milhões de famílias cadastradas no programa, transformará a invasão em ocupação. Além de asfixiar o PT, deseja obter prestígio onde não tem.

No Nordeste, por exemplo, Bolsonaro amealhou no segundo turno de 2018 apenas 30% dos votos válidos, contra 70% obtidos pelo petista Fernando Haddad. O PT elabora às pressas um discurso para se contrapor à investida do capitão. Aposta que a tentativa de sedução não surtirá o efeito idealizado pelo Planalto. 

Para não cutucar o eleitorado, o PT evita criticar diretamente o 13º. Prefere alegar que o governo tirou com uma mão o que dará com a outra, pois Bolsonaro cancelou o reajuste dos benefícios em 2019. Meia verdade. A Folha fez as contas. Constatou o seguinte: 

"Numa projeção do 13º diluído entre os 12 pagamentos mensais, há um acréscimo de R$ 16 no valor médio pago por mês. Se fosse aplicada a inflação (INPC) acumulada nos últimos 12 meses, ele seria de menos de metade: R$ 7,5." 

Bolsonaro e o ministro Terra são defensores da tese segunda a qual o Bolsa Família precisa ter "porta de saída". Na festa de aniversário de 10 anos do programa, realizada em 2013, sob Dilma Rousseff, Lula discursou sobre o tema. Disse que a crítica à falta de porta "denota uma visão extremamente preconceituosa no nosso país." 

"Significa dizer que a pessoa é pobre por indolência, e não porque nunca teve uma chance real em nossa sociedade", prosseguiu Lula. "É tentar transmitir para o pobre a responsabilidade pelo abismo social criado pelos que sempre estiveram no poder em nosso país." 

Decorridos seis anos, Lula está preso e o abismo, além de continuar existindo, foi aprofundado pela ruína construída por Dilma antes do impeachment. Com 13,1 milhões de desempregados na praça, o governo é pressionado a alargar a porta de entrada do Bolsa Família. Porta de saída segura ainda não há. Mas Bolsonaro convida a clientela do programa abandonar o petismo por uma porta lateral, que conduz ao seu colo.

Por Josias de Souza

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