No governo de Jair Bolsonaro, a ideologia virou um outro nome para inquisição. Sob o capitão, todas as perversões são admitidas, exceto as recaídas ideológicas. Em uma semana, ceifaram-se três cabeças.
Joaquim Levy empregou no BNDES um ex-assessor de governo petista. Foi carbonizado em praça pública.
O general Santos Cruz ousou discordar do guru Olavo de Carvalho. Foi dissolvido em banho-maria e despejado da Secretaria de Governo da Presidência.
O general Juarez Aparecido de Paula Cunha posou para fotos ao lado de deputados do PT e do PSOL. Foi mastigado num café da manhã em que Bolsonaro serviu sua demissão aos repórteres.
Implacável com subordinados que desafiam seus fetiches ideológicos, Bolsonaro é leniente com todo tipo de perversão. Dos 22 ministros, meia dúzia ostenta algum tipo de suspeição. A Bic do presidente dá de ombros.
O rol de encrencados inclui, por exemplo, Ricardo Salles (Meio Ambiente), condenado em primeira instância por improbidade administrativa.
Inclui também Henrique Mandetta (Saúde), denunciado pelo Ministério Público por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois.
Há ainda Marcelo Álvaro Antônio (Turismo), investigado pela PF num caso de desvio de verbas públicas por meio de candidaturas de laranjas.
O caixa dois confesso tampouco impede que Onyx Lorenzoni seja mantido na chefia da Casa Civil da Presidência da República, a salvo da Bic do capitão —uma caneta guiada pelo viés ideológico do dono.
No tribunal eclesiástico da igrejinha em que se converteu o governo Bolsonaro, todo pecado será perdoado, exceto os desvios à esquerda. Por ideologia, tudo pode acabar na fogueira —da amizade de um general respeitado como Santos Cruz à ingenuidade de um economista como Levy que, tendo servido aos governos de Lula e Dilma, acreditou nos superpoderes de Paulo Guedes.
Por Josias de Souza
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