
Escrevi aqui um post às 16h34, cujo título é este: "Se faltar dinheiro, culpa será do Planalto, não do Congresso ou da oposição". E ali afirmei:
"De resto, convém parar com a piada estúpida de que é a oposição que está impedindo que o debate [sobre recursos extras] prospere. Não tem número suficiente para isso. Se os partidos que compõem a base potencial do governo estivessem devidamente organizados, com uma articulação política digna desse nome, então as coisas avançariam. Mas não avançam. E o único responsável é o governo".
Pois é. A coisa consegue ser ainda pior do que isso. A última cena da sessão conjunta desta quarta para votar 23 vetos presidenciais que travavam a pauta terminou com um quebra-pau — eis o nome — entre a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), e o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (PSL-SP). E ambos atuaram com elegância característica. O vídeo segue abaixo.
Olímpio julgou que fora traído numa votação do seu interesse, que dizia respeito a agentes penitenciários. Nem vou reproduzir a questão porque não é o objeto do post.. E disparou, aos berros:
"Quero dizer que a palavra não foi cumprida. Coisa de moleque. Assim não teremos dignidade a essas categorias profissionais e eu quero dizer que quem falava pelo governo não teve palavra. O que eu digo aos 130 mil agentes penitenciários? Que não se tem palavra? Que é uma vergonha isso aqui mesmo? Que é uma esculhambação?"
Nessa hora, seus alvos eram o presidente do Senado, David Alcolumbre (DEM-AP), o líder do governo na Casa, Fernando Bezerra (MDB-PE) e, claro, a própria Joice. Os dois primeiros preferiram evitar o bafafá. Mas não Joice, claro! Ela respondeu:
"Ninguém pode pegar uma arma e apontar para a cabeça de parlamentar A, B ou C para votar segundo o que está na cédula. Dentro do próprio PSL houve divergência entre alguns pontos. Não admito que venham de molecagem comigo também. Cumprimos cada ponto do que foi falado".
A metáfora da arma na cabeça, no caso dessa turma, é sempre muito apropriada. Convenham: considerando as aberrações de que essa gente é capaz, é surpreendente que não tenha dito: "Ninguém pode AINDA pegar uma arma e apontar para a cabeça do parlamentar. POR ENQUANTO!!!" Seria uma fala mais adequada à metafísica influente.
Alcolumbre encerrou a sessão.
A jornalistas, disse Olímpio:
"Conosco, não cumpriram o acordo. Lógico [que foi] um passa-moleque. Foi um passa-moleque comigo. Por isso que estou indignado. Além de incompetência, molecagem. Da líder (no Congresso), do líder do governo no Senado, do presidente da Mesa".
Noutro canto, Joice atirava:
"O moleque levando um passa-moleque. O Major Olímpio é um moleque, agiu como um moleque e não é a primeira vez. Ou a gente está numa monarquia? O Major Olímpio adoraria estar numa monarquia. Este é o problema dele. A gente está numa democracia. Nem o próprio partido do presidente [PSL] pode ser obrigado. Quando você vê o líder do partido no Senado se submetendo a um ataque de pelancas no plenário, pelo amor de Deus, é vergonhoso".
Eis a base do governo. Ou melhor: eis o partido do presidente. Talvez seja alguma estratégia para tomar também o lugar da oposição, né?
Não me lembro de os petistas terem acusado molecagem da base do governo ou de lhe apontarem as pelancas.
Eis aí um espetáculo de "marxismo político e cultural". Da linha Groucho.
Ainda entrará para a história do Congresso como a "Guerra das Pelancas".
Por Reinaldo Azevedo
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